Estava na fila do supermercado e havia uma senhorinha magra, quase translúcida, na minha frente. Suas compras eram mínimas, enquanto meu carrinho estava cheio. Ambas esperávamos que o freguês anterior a nós acabasse de pagar para que ela pudesse passar e, depois dela, eu.
     Enquanto esperávamos, começou a trovejar e nós olhamos uma para outra e dissemos: vem chuva. Ela comentou que estava sem guarda-chuva e eu perguntei onde ela morava. Ela morava perto de mim e eu ofereci-lhe uma carona que ela aceitou.
     Depois de ensacar minhas compras, nos dirigimos ao estacionamento e, na entrada, ela perguntou – você vai me levar mesmo? – Eu disse que sim, que claro que a levaria, pois era meu caminho, e ela retrucou – não, vamos por outro caminho, mais fácil, eu vou ensinando a você.
     Dirigimo-nos para a vaga e ela explicava que estava andando sem firmeza, porque havia emagrecido muito e ficara com medo de cair. Eu pensei: tal qual minha mãe - já falecida.
     Entramos no carro e partimos.  A princípio seguimos o itinerário costumeiro, mas ao passarmos em determinada rua que não me era usual, ela disse para eu entrar, que por ali ficaria melhor. Assim fiz e seguimos por essa rua até que, num cruzamento, ela mandou-me parar, que ela desceria ali, pois a casa dela ficava logo adiante.
     Eu destravei a porta do carro, ela saiu e falou: agora vire nesta esquina e faça seu caminho habitual.Agradeceu pela carona, disse vá com Deus, e sumiu.
     O motorista do carro que vinha atrás do meu buzinava impaciente e não pude permanecer parada para me refazer do susto. Arranquei com o carro, olhando para o retrovisor para ver se a via, mas nada, nem sombra dela.
     A chuva não caiu. Mais tarde, eu soube que haviam feito um arrastão: pararam todos os carros que passavam por onde eu passaria, para assaltar os motoristas.
                                 RJ, 20/03/1
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