185 – O MENSAGEIRO DO ALÉM...

E ele que tanto lutou e que tanto sonhou, labutava em sua fazenda com o objetivo firme e decidido de formar um filho seu em Medicina, venderia a boiada, venderia colheitas e mais colheitas, tudo faria para ver um filho seu doutor, e nunca esmoreceu deste sonho!

Finalmente seu filho mais velho fora aprovado no vestibular de medicina na faculdade federal do Rio de Janeiro, e ele, agora era toda alegria estampada, toda felicidade escancarava quando anunciava ao mundo o feito do seu filho, fez uma festa esplendorosa onde não economizou bois para o churrasco, tudo para comemorar o acontecido, e na cidade Maravilhosa, com todo orgulho dizia a todos que estava levando a mudança de seu querido filho, aprovado no vestibular, que seu filho seria um doutor, e que ele haveria de ver na parede de sua sala o tão sonhado diploma de médico.

Tomou todas as precauções, alugou um apartamento bem próximo da faculdade para facilitar a locomoção do filho, aparelhou este apartamento com tudo que há de melhor, depositou uma considerável cifra de dinheiro na conta bancária do menino, encontrou companheiros para dividirem as despesas com a locação, condomínio, e alimentação, enfim, a mãe previdente comprou boas trocas de roupa, e o rapaz foi amparado em tudo quanto é recursos para que tivesse paz e sossego para o bom aproveitamento do curso!

Passado o primeiro ano, nas férias o rapaz fez um pedido para o pai, queria ganhar uma motocicleta de presente, embora o velho relutasse, temia pela sua segurança, mas diante de tanta insistência e da alegação que todos os seus colegas tinham uma moto, e que ele andava de carona, e que aquilo era algo depreciativo, e nesta situação ele se sentia diminuído perante os seus amigos, mas algo implorava nos miolos do velho para que ele resistisse às pretensões do rapaz, que tentasse dissuadi-lo deste sonho, mas ele tanto insistiu, tanto argumentou, que o velho mesmo contrariado acabou por consentir que seu filho comprasse a motocicleta!

Nos primeiros meses após ter dado o presente ao filho, o velho fazendeiro se remoía em arrepios e cismas temendo que seu filho envolvesse em um acidente, o rapaz que era muito responsável estava se saindo muito bem, bem melhor que se esperava dele como motoqueiro!

Num domingo, após falar pelo telefone celular com o filho, ao finalizar a conversa este lhe disse que iria dar umas voltas de motocicleta com uma amiga, o fazendeiro ficou pensativo, absorto, longe de si, e um mensageiro do além disse claramente aos seus ouvidos tudo aquilo que sempre temeu:

- Se prepara! Pois seu filho irá morrer neste domingo em um desastre de motocicleta!

Desesperado ele tentou inúmeras vezes contatar com o filho, mas tudo em vão, então chamou a sua esposa e lhe contou do acontecido, e esta parecendo não acreditar no que ouvia balançava os ombros, por mais que insistisse a esposa continuava na sua rotina, agora ele mais desesperado chamou a cunhada e lhe contou da voz que dizia que seu filho iria morrer, esta, além de duvidar que ele tenha realmente ouvido essa fatídica voz, começou a se preocupar com a sua sanidade mental, sugeriu que ele procurasse um psiquiatra, e que procurasse urgentemente, pois ele estava ficando lelé da cuca!

O pobre homem teve uma crise de choro, se recolheu ao seu quarto e ficou aguardando os acontecimentos, aquelas horas de espera se fizeram longas e deprimentes, quando no entardecer daquele inesquecível domingo o telefone tocou, tocou pra machucar, tocou para enlouquecer, tocou para esmagar o coração, era um amigo de seu filho que avisava que o mesmo acabava de falecer, um carro em alta velocidade atingiu em cheio a traseira da sua moto atirando o condutor e a moça que levava na garupa a uma grande distância, com sérios ferimentos a moça sobreviveu ao impacto, mas ele teve a infelicidade de cair e bater violentamente com a cabeça na guia da sarjeta, morrendo na hora!

Entre soluços e lágrimas ele abraçou a sua esposa e a sua cunhada, e repetia “Eu falei que uma voz me avisou que ele iria morrer neste domingo, eu falei... Eu falei... Eu falei... E ninguém me deu ouvidos”

E o corpo do rapaz foi enterrado na sua cidade natal, os pais passaram a visitar todos os dias o seu sepulcro, onde sempre colocavam flores novas, onde pranteavam amargamente a morte do filho querido.

O velho pai nas noites enluaradas na solidão de sua fazenda, enlouquecido, transtornado, ele gritava ao vento, as estrelas, gritava para o firmamento:

- Porque meu Deus? Meu Deus por quê? Que pecado cometi para receber tamanho castigo, onde foi que eu errei para que tamanha desgraça desabasse sobre o meu coração... Meu Deus! Porque meu Deus? Meu Deus por quê? Eu que pensava receber um diploma de doutor, o que recebi? Recebi um atestado de óbito! Porque meu Senhor! Porque tamanha maldade, porque tamanha infelicidade, porque tanto sofrimento, onde foi que eu errei!

E assim se passaram quinze anos, e eles todos os dias, durante os sete dias da semana visitavam o sepulcro do seu filho, choravam e lamentavam do acontecido, numa manhã de domingo, quando eles estavam preparando as flores que levariam para enfeitar o jazigo, o tempo rodopiou na cabeça do velho fazendeiro, ele se sentiu leve, era como se flutuasse no ar, foi quando a voz do mensageiro do além, aquela mesma que havia profetizado a morte de seu filho, falou:

“Deixem seu filho em paz,” o que está feito está feito, e é irreversível, já faz quinze anos que ele faleceu e ele ainda não conseguiu se libertar, não consegue seguir na sua jornada, se recusa a seguir em face de tanta lamentação, a tanto choro, e a tanta comoção, o rapaz se sente aturdido, deixem o seu filho em paz, deixem o seu filho em paz...

O velho fazendeiro arregalou os olhos, como se de um pesadelo tivesse acordado, abraçou a esposa e lhe contou da voz e o que ela lhe disse desta vez, e concluiu:

- Mulher! Vamos deixar nosso filho em paz, o que aconteceu é porque tinha que acontecer, vamos aceitar o acontecido, vamos fazer de conta que aquela morte foi apenas um sonho, que ele continua vivo aqui entre nós, e continua, vamos nos alegrar, para que ele também fique alegre, vamos irradiar felicidade porque assim ele também ficará feliz... Vamos parar com esta peregrinação, acabar com esta choradeira, lamentações, não vamos mais derramar nossas lágrimas sobre a sua sepultura, esporadicamente iremos visitá-lo porque ele nunca sairá dos nossos corações, iremos vê-lo irradiando felicidades, alegrias, esperanças, assim ele também estará feliz e seguirá a sua jornada.

Vamos aproveitar o nosso tempo para praticar a caridade, confortar os velhinhos desamparados no abrigo dos velhos, visitar os enfermos nos hospitais, visitar aqueles que estão acometidos de doenças incuráveis, aqueles que padecem de dores atrozes, vamos ajudar os desamparados, vamos levar não só a nossa ajuda financeira, mas também a ajuda espiritual, ajudando os desassistidos, aceitando e agradecendo ao Senhor Deus por tudo que nos foi enviado, assim estaremos ajudando ao nosso querido filho na sua evolução espiritual, mais que ajudando o nosso filho, estaremos ajudando a nós mesmos, pois estamos doentes, doentes da alma, e só a caridade pode aliviar-nos deste fardo...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 02/06/2014
Código do texto: T4829702
Classificação de conteúdo: seguro