FUMO A ESCOVA DENTAL DE NOSSOS ATEPASSADOS

FUMO A ESCOVA DENTAL DE NOSSOS ANTEPASSADOS

No passado os hábitos de higiene e os métodos de cura de algumas moléstias que afetava a população, foram artesanais e muito primitivos. Na higiene pessoal, por exemplo, utilizavam ervas aromáticas, raízes, cascas de madeira, sementes, em fim uma diversidade de plantas extraídas da natureza.
O terrível mijacão, ou seja, um tumor abscesso que surgia na sola do pé ou entre os dedos do ser humano, e que o sertanejo atribuía ao contato dos pés com a urina dos eqüinos, poderia se curar banhando com uma infusão de água fervente com o fumo de rolo, na qual se misturava um pouco de urina humana.
Práticas estas, logicamente contestadas pela medicina. Mas muito utilizadas. Um ungüento preparado com o tradicional azeite de mamona, misturado ao rapé (pó de fumo), sobre uma folha de fumo verde, era colocado como curativo no umbigo do recém nascido. Um procedimento para cicatrizar o umbigo. Inclusive o meu e de meus irmãos, foram todos curados com essa técnica. Alternativas iguais a essa foram usadas em longa escala. Fazer o que, era o que se tinha a disposição! A sementinha de fumo era usada como vermífugo, ou (lombrigueiro) no dizer da linguagem caipira.
Não havendo escovas de dente o mais popular, responsável pela higiene bucal após as refeições, foi o dedo indicador. Folhas de goiabeira de mamoeiro, sabão de gentio, e mais uma variedade de plantas muito contribuíram, e foram utilizados nessa prática de higiene. Foi dessa situação que surgiram os mascadores de fumo. Usando o fumo para limpar os dentes.
Com o uso continuo do fumo, a pessoa acabava por viciar dominado pelo poder nocivo da nicotina, e envelhecia mascando fumo. Mesmo após perder sua dentição por completa não conseguiram se livrar do vicio só o deixava após a morte. Pessoas da alta sociedade fizeram uso de fumo, em sua maioria as escondidas.
Convivi com muito idoso mascador de fumo, alguns não tinham o cuidado necessário e davam suas cuspidas nojentas em qualquer lugar por onde andavam , motivando criticas e até certa discriminação.
Minha avó materna mascava fumo, e ao contrario de muitos viciados, nunca escondeu seu vicio. Certo dia estava ela sentada em sua máquina de costura, com um tolete de fumo no canto da boca, quando entrou em sua sala o saudoso Jose Gomes, com um a palha de milho já cortada na mão, tirou o fumo de sua boca picou na parte enxuta dele, devolveu a ela, enrolou o cigarro acendeu e saiu baforando fumaça rumo a sua farmácia na casa vizinha onde residia. Vovó continuou sua costura como se nada tivesse acontecido. Eu testemunhando aquela cena de amizade e confiança entre dois amigos, aproveitei para mata minha curiosidade de criança e perguntei:
--Vó porque a senhora masca fumo --, e as vezes vai ao fogão e bota cinza nele? Rindo ela respondeu!
-- Quando sua vó era moça meu filho, não havia escova nem pasta dental. Então a gente limpava os dentes com fumo de rolo e cinza, mas tem que ser cinza branca, carvão não serve, essa prática se dizia arear os dentes, atualmente se fala escovar os dentes, não é mesmo?
-- Ao envelhecer assim com eu, perde os dentes, mas não consegue deixar de mascar porque a nicotina vicia, e a gente não consegue viver sem ela, fiquei tão viciada que até da cinza eu sinto falta.
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 28/04/2014
Reeditado em 19/08/2020
Código do texto: T4786108
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