O ESPEIO

O ESPEIO

Dona Antônia foi chamar sua comadre Francisca para fazer o almoço na casa dela, pois tinha que buscar umas encomendas que sua mãe tinha mandado pela Van do seu Carlos que vinha de Maceió. Quando Francisca chegou Dona Antônia estava aperreada, Francisca perguntou?

- Comade que foi mulé, que tá tão aperriada?

Dona Antônia respondeu:

- Mulé eu tô aqui toda coisada, sem saber como eu saio, apoi tô sem bolsa pra mode saí, como vou levar meus documento?

- Homi, Francisca respondeu, porque tu num me avisou pra mode eu trazê a minha pra te emprestá.

Dona Antônia com as mãos na cabeça de um lado para o outro sem saber o que fazer, foi quando Francisca teve uma ideia e Gritou:

- Já sei!

Dona Antônia, botou a mão no coração e disse: -Vote, tas doida é peste ques me matá, que susto, mar dir logo.

-Comadre, o arroz já tá no restinho, eu já vou bota na panela, tu pega o saco infia os documento, bota no sutiã e vá simbora, que o carro já tá chegando, e sabe como é seu Carlo só vive nas pressa. Falou Francisca.

E foi isso que ela fez e se despediu dizendo: - Bom, já vô chego já.

Mal virou as costas sua comadre ficou dizendo: - Ô muié veia besta, num sabe nem resove uma coisa besta dessa, se num fosse eu.

Nisso Dona Antônia, voltou da porta e disse: - Falou comadre, eu já tava saindo, quando hovi tua voz e vortei.

Francisca toda descabreada, respondeu: - É nada não mulé, eu tava falando sozinha.

Dona Antônia fez que saiu e ficou na sala escutando. Francisca começou a resmungar: - Ô mulé que só sabe abusa os otro, pensa que não tenho nada pa fazê, agora vai eu dizê não, vê se ela num amarra a gata e fica de cara feia pra mim.

Dona Antônia entrou na cozinha e disse:

- Ô cumade Francisca, se você num pode me ajudá, vá simbora pra sua casa pra mode num fica falando de mim por trás, como tu tá fazendo.

- Ô mulé ligue não, que vou fazê teu armoço, é que tô pra mistura e tu num sabe que fico nelvosa quanto tô assim.

- Sei mermo, quando tu tá assim só gosta de tá arengando, já vô, fique aí cum sua chatice.

Comadre Francisca começou a fazer o almoço e disse baixinho:

- Mai homi, o cabra vê quato coisa, vim fazê favô e ainda sou ruim. -Daí pensou: - Será que ela já foi mermo,vou espiá lá na sala.

Quando se virou, viu uma pessoa, deu um grito e jogou a colher de pão que estava na mão, que bateu no espelho e quebrou. Espelho bom, caro, que Dona Antônia tinha acabado de comprar, quando viu isso disse:

- Valei-me meu pai, um espeio caro desse como vou pagá!

Voltou pra cozinha tomou um copo d’agua, sentou e ficou pensando o que iria fazer.

- Já sei! Vou dizê pra cumade Tonha, que o espeio quebro sozinho e que a casa dela é mal assombrada.

Quando já estava acabando de fazer o almoço Dona Antônia chegou toda feliz com a encomenda, e foi dizendo: - Vamo abri Franscica, pra mode vê as coisa boa que mãe mandô.

Francisca, já tinha bolado direitinho o que iria fazer, começou a chorar e a dizer: - Tonha, tô toda me tremendo minha fia.

- O que foi que aconteceu, mulé?

-Tu vai tê que sai da tua casa.

- Oxe, eu porque? Foi Verdiano que veio com essa história, poi derde que aquele caba safado, vagabundo, mim dexô e foi mora com aquelazinha, só vive espaiando que vai mim tirá de minha casa, agora quero vê se ele é homi pra isso.

- Num foi Verdiano não, a sua casa é malassombrada, espia só, tava eu na cozinha quando hovi um baruio fui pra sala vê o que era e o teu espeio tinha quebrado sozinho.

-Vote, que história é essa? Um espeio bom desse, caro, quebrô sozinho, essa não, perdi até a fomi, vô agora mermo na loja de seu Manué e quero vê se ele não me dá otro.

-Não cumade, dexa isso pra lá.

- Como é, dexa pra lá, nem morta! Aquele ladrão me vendeu o espeio, dizendo que era de boa qualidade, o bicho foi tão caro que eu divide em dez vez. E otra, você vai comigo como testemunha da ladruage dele.

Como não podia dizer a verdade com medo da reação de Antônia, Francisca teve que ir.

Chegando ao mercadinho do seu Manoel, Dona Antônia foi bem recebida.

- Bom dia, Dona Antônia! Que devo a honra da presença da minha melhor cliente! Veio comprar outra coisa, foi?

Dona Antônia respondeu: - Pois é como o sinhô disse sua melhó cliente, mermo assim me vende coisa que não presta e ainda caro.

- Oxe, a Senhora tá falando de quê?

- Do espeio que o sinhô disse que era bom, pois hoje sozinho se quebrou-se bem na frente de minha cumade Francisca.

- Mas não foi mesmo, espelho bom madeira fiche, de lei, agora se a Senhora é macumbeira, que eu nem sabia e as coisas se quebram sozinha dentro de sua casa, não posso fazer nada.

Pra que seu Manoel falou isso. Dona Antônia disse: - O quê? Que eu até mermo tô frequentando a igreja dos crente. Quando ela olhou do lado tinha um monte de guarda-chuva pra vender, pegou dois deu um pra Francisca e disse: - Me ajuda mulé vamo batê nesse disgraçado!

Começaram a bater no coitado, ele correndo e as duas atrás batendo nele. Foi quando ela parou e disse:- Como é, vai me dá outro espeio ou não, porque se não vou quebrar esse mercadinho e seu prejuízo vai sê Maió. O coitado do homem estava tão desnorteado que disse: - Tá certo, tá certo, leve outro espelho, mas eu digo essa história tá mal contada.

Antônia pegou outro espelho, olhou pro seu Manoel e disse: - Nunca mais na minha vida, tá ovindo, eu entro nesse mercadinho, nem se fô pra compra uma águia.

Quando saíram do mercadinho Francisca olha pra Dona Antônia e diz:- Bate cumade aqui, mostrando a mão.

- Cum a raiva que eu tô só se eu batê em tu infeliz! Lá vem tu feito minino amarelo peu batê na tua mão, mas homi! Vamos simbora que depois dessa confusão me deu até fomi. Saíram depressa pra casa e foram almoçar.

Autora: Lucy Lopes

Lucy Lopes
Enviado por Lucy Lopes em 02/04/2014
Reeditado em 13/01/2017
Código do texto: T4753328
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