PESCARIA
Tio Rui, um homem pra mais de dois metros, deixou o chão tocar seus joelhos e me repetiu pela enésima vez esta frase: “Você é linda, mas só no retrato, porque lá você fica paradinha.” Gostava demais desse meu tio, não largava dele quando ia para roça.
Pedi-lhe certa vez para me ensinar a pescar, devia ser muito bom pois os homens iam pro rio, ficavam um tempão e voltavam numa alegria só. Antevendo pelo que passaria, fez malabarismos para se safar desta, mas não resistiu; cedeu.
Explicou-me que precisava colocar a minhoca no anzol. Depois era só esperar fisgar o peixe, completando sua fala assim: “Viu! Nada é mais fácil do que isso!”.
Tive uma dúvida, como saberia se o peixe já estava preso? Respondeu que eu sentiria o sinal e para isso era preciso ficar bem QUIETINHA.
Olhei para a lata de minhocas e com a cara esverdeada, pedi que a prendesse para mim. Não pegaria naquele bolo marrom de coisas moles se mexendo de jeito nenhum.
Meu tio começou a perder a calma resmungando que só mesmo quem era da cidade, poderia ter nojo de uma minhoquinha! Mas perdeu mesmo toda paciência ao fazer isso pela décima vez, pois quando eu tirava a linha da água, não havia mais nada no anzol.
Depois de reclamar das picadas de insetos por mais de uma hora, consegui perceber o tal sinal. Puxei a vara com toda força. O peixe passou por cima da minha cabeça e foi cair lá no mato. Só consegui vê-lo nestes segundos em que voava. Desapareceu.
Cheguei a uma conclusão, este negócio de pescaria não é fácil não!
Fui aprender a pescar
“segure firme o caniço
se o peixe morder é só puxar
nada é mais fácil do que isso”
Não suporto pegar a minhoca
alguém faça essa caridade
“logo se vê que não é da roça
você é mesma da cidade”
Depois de uma hora esperar
senti o sinal exato
puxei com força a vara para o ar
lá se foi o peixe pro mato