O UIVO DO LOBISOMEM

O breu in -noite di lua cheia, ni -época de goiaba das branca e vermêia fazia o povo alembrá du bicho ruim, de assombração. Principarmente na roça, nas istrada e curva fechada, a moçada andava assustada, catano us canto dus lado - discunfiado - cum medo de iscuitá o urrado do bicho lubisome.

E a rapaziada num pirdia uma quermece. Dava na boca da noite o povo já inha pra-di-perto das tronquêra, na bêra dus camin pra isperá as compania; E, era uma das mió festa quinhantis tinha na roça. Sempre aparicia um agrado. Brôa com café de rapadura prus -mais comportado e prus -mais arridio tinha num cantin da casa um carotin de pinga prus mininu apriciá. Êis dançava uma vorta ca -dama e curria nesse carotin pra tomá um apiritivo. As precata arrastava nu assuai inté as tanta; só iscuitava o baruin das ispora da moçada. Condo o sanfonêro cansava de iscardar a sanfona, inha um, curria, e punha mais qui -dipressa as pilla nu tocadisco e a moçada cumia da bage traveiz. Pudia pará não. O tocadisco era de oito pilla; Tinha veiz quêle cumia quatro carrêro numa noite. Condo a moçada cumeçava ficá mei zonzo e cansava di arrasta us pé, ês ajuntava e arreunia pra contá histora; E as histora de assombração quêis contava era trem di arripiá o cabelo mémo.

Cada quale quiria sortá a sua, uma pió qui a ôtra, e iscuitá dinoite antão era pió ainda - istrapaiava inté o cabocro drumí. - Mais nas roda de prosa, dispois das réza, dus baile, u qui dava era causo. Sempre aparicia um pra querê amendrontá, principarmente pra fazê gracejos pras mucinhas, que ficava tudo incuidinha cum zuin regaladin e uriçada tamém. E, deu tinha um sujeito lá du patrimõe qui nóis morava qui -num pirdia um baile. Condo o povo tava arreunido e dançano, já a bem tempo, ele chegava numa mula pêlo de rato; Era uma bestona arta, já bem véia, trotona e pacata. C’uma das -orêia caída, dum dava pra sabê quem assustava mais, se era essa bichona ó u sujeito qui tava muntado prurriba; prumodiquê o traçado du corpo desse sujeitin num era bunito não!

Ele era um capiau arto, da cara cumprida, a pestana inrriba do zoi topava ca –ôtra; Ca -quexada cumpridinha, iguale a dum lobo guará e as-unha puntuda assustava divera.

Ele tinha o pé grande mei -vortado patrais e o resto du corpo cuberto pru –pêlo - cabiludo padaná. Paricia mais aquêis cachação preto du mato. Feiiio cumêle só!!!! Iguale arma-penada. O povo ficava inda mais ca -orêia impé quële, pruquê ocê só via ê-chegá nu pagode, cond’ele inha simbora sumia feito assombração. E uqui mais incucava a moçada é que s’ele iscuitasse assunto de Lubsome, sombração, antão num chegava na roda de prosa purnada; Nem se o carotin tivesse pru-perto.

Mais na verldade ele é era boa praça; Nunca foi chegado nu sirviçin pesado, mais boa praça era. Levava a vida nu inrôlo, imbromano - vendeno ovo e galinha pru povo. Divêis incondo sê via ele cum frango dibaxo du braço cassano compradô. Cond’ele tava mais novo, sadio, asveiz tirava leite dumas curralerinhas prus-ôtro; mais pissuí mémo pissuía umas cabritinha. E ansim inha ingabelano o tempo.

Fanfarrão, gostava dá uma de isperto, mais condo bubiava se via in-meio us amigo du Zé Japão; Êis arrastava ele pra mesa du cartiado, infiava nele a carosene e cond’ele tava bem zonzo mémo, aí sim, limpava o borso du moço tudo... Pirdia inté us-ovo ca-galinha num tinha botado. Numa dessas QUERMECE na roça eu mais uns cumpanhirin meu, arresorvémo ficá de zói pra vê a hora quêle inha simbora; E deu sô, que já no meio do baile, de cá vi quêsse sujeitin arredô de perto do carotin de pinga; desceu um iscambadozin e caminhô em dereção u chiquêro; chiquêro esse qui fazia fundo ca -tuia de café on -tinha um pézin de goiaba vermêia carregadinzin. Cond’eu vi aquilo arripiêi tudo e quis vortá patrais. Na méma hora me vêio nas idéia: Este camarada ó vai cumé goiaba ó vai misturá qüêssas porcada. Iô -quis vortá patrais mais um dus cumpanhirin qui vinha logo atrais falô ansim comigo, me atiçano: Ocê num vai fazê isso não Mandruvachá nóis tamo aqui cocê, uai?!

- Ai garrei e falei ansim, cum medo mais falei: se é ansim, antão eu fico!!!

Praquê rapaiz!?

Os porco arrumô um fragelo lôco condo viu esse homi... hummmm... mais a porcada gritava, pulava - e teve um leitaozin magro, nu fragelo, qui iscapô prubaxo das vara du chiquêro e vêio em nossa dereção e logo atrais dele apontô esse capiau correno inzuretado, pega que num pega o marraozin pru pé. Cumo nóis já tava nu trierozin, rumano, assustamo ca -aquele aranzér tamém e metemo a lanterna inriba!!! Foi condo nóis vimo qui o cara cumprida tava era tirano água du juêi. Com disatino num deu tempo nem dele guardá a ferramenta de uriná dereito - antão moiô a carça tudo. Ele assustô ca -giriza da porcada tamém. Ai ele falô ansim, batido: oquê cocêis tão fazeno atrais di mim? - Eu tomei frente e rispundi: uê... nóis vimo vê a baderna dus porco, sô!!!?

Parece quêsse camaradinha ficô mei constrangido e sem graça, prumodiquê o povo tá tudo oiano ele cum rabo di zói. Mei qui ricibiado pensô qui o povo tava achano quêle quiria robá porco, num discunfiô qui o pessoá tava era co -medo dele transformá im –lubisome. Com isso nem vortá lá na sala de dança quis mais. Desceu, pegô a mula e cumeu-istradão. Saiu trotano ligêro.

Tomado pela branquinha e corage de mulecão novo, saimo de longe atrais dele, sem quêle vêsse. Condo chegô num arto, numa vorta iscura perto dumas bananêra (onde o povo falava que era assombrado), ai ele parô - abriu a portêra e passô.

- Raaapaiiiiz... condo a portêra bateu, mais esse moço deu um urrado numa artura!!!

A hora qu’ele urrô a mulona assustô e eigueu a cabeça, inté a orêia mocha dela qui tava caída levantô. Nessas artura minino, um dos cumpahirin qui tava com nóis, o chico Antõe, num arresistiu tamém e caiu patrais, de ispanto... - parece que a pressão dele baxô ó suspendeu e ele tombô pru terra.

- Pronto, só oqui me fartava, chico Antõe infartô.

Nessa hora subi pra bandiriba dum barranquin e vi condo o sujeito apiô dipressa da mulona. Apiô e intrô correno nu meio duma moita de bananêra fechada; ai compricô tudo, prurque cumé qui nóis inha entrá lá.

E, deu qui o danado garrô pur-lá tamém. Ficô tudo caladin; baruí, nem de grilo nem de curuja. Pa -compricá inda mais as -idéia um dos capiauzin falô: ta berano meia noite... a lá. Apontano pr’uriba da chapada me mostrô a lua; e é cheia viu Mandruvachá!!!

- O infiliz du Cara cumprida num urrô mais, não. Na hora qui deu pra chegá mais pru-di-perto das bananêra ond’ele infiô iscuitamo uns urraduzin - só qui dessa veiz baxin; tipi gemeno.

Um dus cumpanhirin qui tinha levado uma ispinguarda porvêra de inchê pa –boca, dum tiro só, um tiro e um galope, já ingatinhô e apontô em dereção ao barui; ai eu pensei e falei dipressa: carma lá... carma lá. Iô vô jogá um terrão nu rumo, a hora qu’ele levantá ocê puxa o dedo e sapeca ele. Eu juguei o terrão mais o tiro já foi atrais tamém, riscano fogo ispaiado pra todo lado. Este sujeito saiu numa carrêra doida quebrano gai -di -pau nu peito e sigurano a carça na mão ca -pôpa distapada. Cond’ele arcançô a istrada traveiz nóis viu ele muntano dususperado na mula, sem a carça mémo.

Foi cond’ele garrô e gritô ansim: Ocêis tá quereno me matá prumode iô tá cagano ó prumode iô tá urrano?!!!

Uivô feito lubisome, tocô a mula, e saiu na disparada, agora, gritano: iiiiiirruuuuu!!!!

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 26/10/2012
Reeditado em 18/07/2017
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