112 - MALDITA TATUAGEM ...

Tenho um grande amigo que sonhando com ardentes amores, da esposa já cansado e querendo logo dela se livrar foi generoso na separação, abdicou de quase todos os seus bens em seu favor e de seus filhos, pra si reservou o direito do uso e do fruto da fazenda e de uma casa onde passou a residir.

Livre das amarras da carne de pescoço e era assim que ele se referia a sua agora ex-esposa, solteirinho, se fez mocinho e logo logo passou a desfilar pela cidade com uma garota que aparentava ter a idade da sua filha mais velha, meu Filé Mignon, assim ele a chamava, por ser criador de bois tinha essa mania de se referir às mulheres com as mesmas palavras que no dia a dia usava com o seu gado.

Em uma exposição na cidade Uberaba-mg, encontrei com o nosso amigo que alardeava em estrondos, nas alturas, desejoso que por todos fosse ouvido que estava vivenciando o melhor momento da sua vida, estava amando e sendo amado, uma incontrolável e desmedida paixão se apoderara do seu coração, um encontro de almas, amor à primeira vista!

Sem mais e sem menos apareceu a tal Filé Mignon, que manhosamente foi logo dizendo:

- Moooorrr, olha a tatuagem que eu fiz, será que você vai gostar?!

Mama mia, ela no momento usava uma calça justíssima, dessas que deixa a barriguinha e a parte superior das nádegas à vista, uma blusa pequenina, e dando-lhe as costas, faceira num requebro assanhado e provocador ela mostrou a novidade, bem lá entre as nádegas, uma florzinha vermelha tatuada.

– Uai Gatinha! Adorei, essa tatuagem, ficou linda, linda!!

– Mooorr, venha comigo...

Passado algumas horas em uma churrascaria que existe dentro do Parque de Exposições, nós nos reencontramos, e ele um tanto constrangido e ressabiado, mas incentivado pela Filé Mignon mostrou uma tatuagem que também mandara fazer no seu braço esquerdo, o braço do coração, era uma imitação tosca do rosto da moça com a inscrição.... “Josi, meu amor”...

Ficamos perplexos, pasmados, até sem fala, quando por fim nós nos livramos do espanto, elogiamos nas falsas palavras que aquilo era uma obra de arte, mas assim que eles desapareceram na multidão o comentário foi um só, quando um homem naquela idade se apaixona fica cego, bobo, abestalhado, e na boca pequena, nos sussurros, afirmavam que os chifres que o nosso amigo já estava carregando na testa eram bem maiores que os chifres de uns bois da raça zebu guzerá que no momento estavam desfilando pela pista da exposição.

Passado alguns meses no site dos homens mais chifrudos de nossa cidade, o nosso amigo insistia em ocupar o primeiro lugar, e neste site ele era apelidado de “O chifrudo da tatuagem”, pondero que ele tenha visitado tal site, pois ultimamente passara a usar somente camisas de mangas compridas, apesar do calor infernal que faz nesta região, na certa sacrifício para camuflar a já tão afamada tatuagem, quando alguém o alertava do par de chifres que a Filé Mignon estava colando em sua testa ele retrucava desdenhando, que, melhor é comer um filé a dois do que roer sozinho uma carne de pescoço, conversa mole para esconder a sua amargura.

Desgraça pouca é bobagem, o meu amigo cansado de tantos chifres, abandonou pra sempre a Filé Mignon e foi logo visitado por um advogado matreiro que representava os interesses da coitadinha da mocinha, que alegava que era muito bobinha, que fora seduzida pelas promessas de muitas posses, dinheiro farto e cartões de crédito, que fora vítima de um pedófilo, na justiça depois de muitas brigas, ameaças e desacertos, por fim acordaram e ele cedeu a caminhonete e mais algumas centenas de bois pra coitadinha, depenaram o nosso amigo, tão depenado ficou que já sentia saudades da carne de pescoço, a primeira esposa, com a boca cheia de saudades e uma vontade danada em reconciliar falava pra todos os ouvidos que ela sim, uma santa, um anjo, nobreza de mulher, boa mãe e digna de todos os elogios.

Mas quando no descuido olhava para o braço e deparava com aquela maldita tatuagem era como se brasa ardente fosse queimando não só o seu braço, mas também a sua alma por inteiro, aquilo desqualificava a sua honra, a sua personalidade e ele cabisbaixo sempre dizia que teria que vender seus últimos bois para pagar uma cirurgia plástica feita com raios laser para arrancar, apagar e destruir de vez aquela besteira que fizera, se sentia tal qual um boi marcado a ferro em brasa, imagino que mesmo a cirurgia plástica não conseguirá apagar por inteiro a tatuagem, aquilo penetrou pele adentro, alma a fundo, indestrutível, pra sempre uma lembrança da Filé Mignon.

Quanto mais e mais ele olha para o braço, mais e mais ele arrepiado fica, revolta surda de fundo aflora, fica completamente transtornado, fora de si, das vezes com um canivete raspa sem pena alguma de si aquela tatuagem, sangue escorre, mas a tatuagem sorri pra ele, não sei se ela sorri da sua loucura ou se sorri do seu par de chifres.

Quando ele exagera na bebida fica descontrolado, destramela a boca e aos gritos clama por um facão, quer porque quer decepar aquele braço tatuado...

Todo chifrudo tem os seus momentos de valentia!!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 21/11/2011
Reeditado em 25/03/2012
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