087 - O APRENDIZ...

Meu padrinho Roberto Rego e sua esposa Dona Mari voaram alturas para irem visitar seus parentes na cidade de Jundiaí – sp – me lembrei de um causo...

Quando apareceram os primeiros aviões pulverizadores de defensivos agrícolas em nossa região, aquilo se transformou em uma atração turística na colônia da fazenda.

Domingo, sol a pino, todos lá na pista de terra batida em volta do avião, curiosos admirando aquele mostro voador, o piloto era jovem, muito sério, compenetrado em seu serviço, mal conversava com seus ajudantes, dado às centenas e centenas vezes que já haviam executado aquela mesma tarefa, abastecer o avião, abastecer os tanques com produtos a serem pulverizados, verificar vazamentos de óleo, entre outras coisas.

As moças assanhadas tinham os olhos grudados no piloto, eleito o herói, o destemido, o homem com H maiúsculo, o Macho, e ele destacava pela sua estatura, alourado, olhos verdes, na certa descendente de italianos.

Entre os peões da fazenda tinha um que se chamava Nicodemo, namorado da Maria Quitéria que vivia mostrando largos sorrisos para o piloto. O rapaz enciumado:

- Eu já voei em muitos aviões, já fui até ajudante de piloto, tenho medo não de voar nesta geringonça. Falava alto para o piloto ouvir desejoso de ser convidado a por a prova a sua coragem.

A desgraça sempre encontra meios para se mostrar, em um determinado domingo, platéia completa na pista de aviação, o Nicodemo arrastando gargantas e mais gargantas, que se tivesse uma oportunidade voaria naquela máquina, o piloto já cansado de ouvir tantas jactâncias, abriu uma maleta e de lá tirou uns óculos de aviador e cuidadosamente ajeitou na cabeça do Peão, agora promovido a co-piloto, este ao subir no avião a todos acenava, principalmente para seu futuro sogro e sogra, a Maria Quitéria se derretia de orgulho da valentia do seu amado.

Ajeitaram o Nicodemo no banco que ficava logo atrás do banco do piloto, e com diversas correias arrocharam o homem de tal forma que o avião poderia voar até de cabeça para baixo que de lá ele não desgrudaria.

Que Deus proteja este aprendiz de piloto, pois na certa aquilo não era valentia alguma, mas sim uma grande falta de juízo. O sogro:

- Cabra macho é o meu futuro genro, o Nicodemo, vai das alturas ver a terra. A filha, a sogra, todos acenando e o avião levantou vôo.

A tentação arrepiou desejos maldosos na mente do piloto, assim que o vôo foi alçado o piloto acelerou tudo que tinha direito e abicou o avião na direção do céu, e na vertical foi subindo, subindo, subindo, quando num repente parecendo que o motor falhara lá do alto despencou, foi caindo em rodopios para um lado e para o outro, ora aprumado para um lado ora para o outro e quase rente ao solo o piloto readquiriu o controle da máquina e deu um rasante sobre o pessoal que preocupados ficaram, pois não viam mais a cabeça do Nicodemo, alguns até pensaram que o rapaz lá das alturas tinha despencado.

Atrás do avião uma nuvem de produtos químicos caiam sobre a plantação, e no final da área demarcada, o piloto na mais pura maldade acelerava ao máximo o avião que sulcando o céu em parafusos deslizava e todo o povão aplaudindo.

Terminado o serviço, pousado o avião, o piloto prontamente tirou os óculos e saltou do avião, o sogro, a sogra, a namorada, e toda aquele gente, moradores da fazenda gritando o nome do novo herói daquelas redondezas...

Nicodemo!!! Nicodemo!!! Nicodemo!!! E o Nicodemo quieto, muito quieto, quieto até demais, não se aluía de dentro do avião, as pessoas que estavam bem próximas ao avião passaram sentir um cheiro forte de fezes, no popular um cheiro de bosta, e à medida que os ajudantes do piloto foram libertando o Aprendiz de piloto daquelas correias, todos já adivinhando o que tinha acontecido na boca pequena davam risadas, o rapaz tinha cagado na roupa de tanto medo que sentira, o Nicodemo parecia que estava entalado dentro do avião, e em nada facilitava os esforços de retirá-lo do cubículo, enfim depois de muitos sacolejos retiram o pobre Nicodemo de dentro do avião, na pista não conseguia ficar em pé, tonteado que estava, e a merda ao escorrer pernas abaixo empesteou o local de um cheiro insuportável.

Em uma charrete levaram o Nicodemo às pressas para sua casa, o pessoal aos poucos foram perdendo o temor de rir do acontecido e de longe se ouviam largas gargalhadas para tristeza da namorada e de sua família, e em uma madrugada ele desapareceu pra sempre da fazenda, sem acertar as contas, sem receber o que tinha por direito, dizem que voltou para sua terra, lá no nordeste.

Com certeza o Nicodemo por um bom tempo terá péssimas recordações ao ouvir um simples ronco do motor de um avião...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 01/08/2011
Reeditado em 20/08/2011
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