080 – O MOMENTO...

Certa vez fomos pescar lá pelas bandas da cidade de Coxim- MS – passamos pela cidade e seguimos pela estrada até um vilarejo chamado Silvolândia, derivamos para a direita passando sobre um córrego que os ribeirinhos chamam de córrego da onça, aquela estrada segue para a região do rio Jaúru, mas nós voltamos pela outra margem do rio Taquari, bem próximo onde ele se encontra com o rio Coxim e fomos acampar nas terras do Senhor João Ramalho, um mineiro que há muitas décadas mora naquela região.

No outro dia subimos de barco pelo rio Taquari e próximo a um trecho encachoeirado, de fortes corredeiras, descemos do barco e nos ajeitamos no barranco para pescar, pois neste rio é proibido pescar embarcado.

Os pescadores profissionais sobem aquelas corredeiras na facilidade, mas dois pescadores em um barco impulsionado por um motor novinho, lustrado, brilhava ao sol, foram subindo as corredeiras quando de repente:

- Pof! Pof! Pof!, O motor começou a falhar no momento crítico da corredeira, mais pof, pof, pof, apagou de vez!

O barco desgovernado foi descendo a corredeira batendo nas pedras e nos troncos existentes naquele trecho do rio.

No remanso, o pescador com uma calma angelical, sem mostrar nenhum descontentamento, puxou a corda da partida, motor funcionando, com fortes aceleradas avançou seu barco corredeira acima e lá se foram eles, no alto da corredeira:

- Pof! Pof! Pof! Desta vez só foram três pof, o barco completamente sem controle foi sendo arrastado rio abaixo esbarrando em todos os obstáculos que encontrava, quase emborcou, quando chegaram ao remanso perto de nós tiveram que tirar muita água de dentro dele, mas o pescador, que alma pura, um anjo, calmo, alegre, após algumas tentativas o motor voltou a funcionar e eles arriscaram mais uma vez e o resultado foi um pouco pior, o motor como anteriormente afogou lá no alto das corredeiras e o barco sem controle algum foi arrastado perigosamente em sua desastrada descida, chocou tão fortemente contra as pedras que amassou a lateral do barco, no impacto varias caixas contendo tralha de pesca foram atiradas pra dentro do rio. Era de se admirar o controle, a calma, a serenidade daquele pescador, um anjo, no remanso remou o barco até uma pequena praia, tirou o motor e o colocou encostado no barranco do rio, pensávamos que ele iria consertá-lo, quando num repente:

- Poou! Poou! Seguidos tiros e o anjo já transformado em demônio enfurecidamente gritava com o motor:

- Seu desgraçado, filho da puta, você não vai mais passar raiva em ninguém! E mais tiros, e mais tiros:

- Cachorro! Coisa ruim! Você não vale nada, e mais tiros! Era só pedaços do motor que voavam pra todos os lados, completamente transtornado recarregou o revolver e mais tiros...

E mais xingamentos...

Acabada a munição, o demônio se fez anjo, com o motor estraçalhado nos braços como se pega uma criança amada, calmamente o colocou dentro do barco e saíram remando e lá no meio do rio voltou a ser o satanás, em pé agarrado no motor, dele ele se despediu:

- Filho da puta, você não presta... Falou mais alguns palavrões e atirou o motor dentro do rio, no sacolejo o barco, o contragolpe derrubou o infeliz dentro do rio que prontamente foi socorrido pelo amigo, já dentro do barco, sorrindo acenou pra gente despedindo, aproveitando o curso do rio favorável remaram para a cidade de Coxim.

– Aquele pescador teve um comportamento surpreendente! Falei!

Meu pai respondeu:

- O homem é feito de momentos, meu filho! O perigo está no momento, pois cada homem reage ao momento de maneira das mais surpreendentes e inesperadas, o menos culpado dessa situação levou a pior, o motor, que a meu ver não teve culpa alguma, a culpa talvez esteja na gasolina com sujeiras que entupiu o carburador. Aprenda a lição, nas derrotas não atire a culpa no primeiro que aparecer à sua frente assim evitará arrependimentos no futuro, pois quase sempre o maior culpado de nossas derrotas está em nós mesmos...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 06/07/2011
Reeditado em 10/02/2013
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