O Enterro do Seu Carlão

Seu Carlão no alto dos seus noventa anos, depois de tanta luta para viver, finalmente a morte o venceu. Mas tinha um probleminha seu Carlão morrera dormindo e só dormia de forma lateral e com as pernas dobradas, de boca aberta, pois sua respiração diminuíra com a idade e não existiam mais dentes.

Era exatamente oito horas da manhã quando carmelita sua neta notara a sua ausência, decidiu acordá-lo, ao chegar próximo à cama notara que seu Carlão partira dessa pra uma melhor – Aos gritos, venham! Corram! Acudam! O vô morreu!

E todos correram e constataram que não era mais um ataque de exagero da tão espalhafatosa Carmelita. Foram tomadas as providências e a neta sempre tão prestativa, lá, juntinho com o corpo que já enrijecido esfriava na maca do IML.

E na preparação para vestir o defunto o funcionário vendo a dificuldade de acomodar seu Carlão no caixão, pediu a permissão para quebrar as pernas do falecido, sendo afirmativa a resposta da neta o procedimento ocorreu normalmente e sua boca foi fechada a marteladas.

Tudo corria de forma natural, e o caixão seguiu para o velório, e lá se encontrava a enorme família com filhos, netos, bisnetos, curiosos e todos que gostavam, ou não gostavam tanto, foram apenas para comprovar que o velho tinha mesmo morrido, entre choros baixinhos e comentários e um tal de tomar cafezinho. Lembraram que aquele que jazia tinha falecido todo encolhido e agora estava esticado no caixão, daí começou o buxixo, e um grito lá de trás ecoou por toda a sala onde era feita a última homenagem ao defunto;

- Espera aí meu pai morreu encolhido, quem o esticou? Quem?

Carmelita toda desconfiada: - O rapaz da funerária pediu para quebrar as pernas dele porque como você sabe o vô tinha um metro e noventa não tem caixão que ele coubesse e eu autorizei.

- E a boca dele como foi fechada

Carmelita outra vez sem saber como se sair dessa: -Eu...Eu também autorizei fechar com um mar...Martelo.

- O quê? A filha aos gritos, o quê? Você ficou louca!

E avançou contra ela, e daí começou a confusão, era grito pra lá, grito pra cá.

Carmelita começou a tremer e seus quase cem quilos acabaram no chão, todos correram para socorrê-la e o seu sobrinho Rafael que mal começara a cursar medicina, grita: - Deixa comigo, eu vou reanimá-la com uma massagem cardíaca vocês vão ver rapidinho ela volta, falando isso se debruçou sobre ela e com toda a sua força e inexperiência começou a fazer a tal massagem milagrosa, mas o que ele não sabia e que Carmelita tinha apenas desmaiado, onde o procedimento era outro... Carmelita com a dor descomunal que estava sentido no tórax voltou a si e não conseguindo falar, quase morrendo de dor, olhava para todos implorando que alguém entendesse o seu sofrimento e o Rafael falava: - Tenho que fazer com mais força e mais rápido antes que aconteça o pior, mal sabia ele que o pior estava para acontecer por causa da sua falta de conhecimento... Quando de repente ouve-se um grito: - Eita ela está chorando, pára doido que Carmelita num ta morrendo não, está vivinha da Silva!

Rafael todo sem jeito saiu de cima da tia e com o rosto enrubescido fala: - É porque eu vi na tv que isso ressuscitava até morto.

- Mas Carmelita está viva, levanta ela, vamos!

Afastaram-se e a corpulenta foi levantada e para surpresa de todos, tacou um tapão no Rafael, você está doido menino quer me matar? Estou com a caixa dos peitos que não agüento o que foi isso?

- Você desmaiou para não me enfrentar não foi safada?

-Eu...Eu mesma não, me deu um escurecimento de vista e quando voltei, foi Rafael trepado em cima de mim, que quase me mata e você ainda pensa que era fingimento, eita mulher doida quase me enterra também, e tem mais, agora não tem mais como colar as pernas do vô e também ele não sentiu nada não tia, já estava durinho, mortinho, nem reclamou de nada oxe, pra quê esse alvoroço todo queria ver se eu tivesse morrido quem iria criar os meus meninos.

E a turma do deixa disso acalmou o velório e o enterro prosseguiu calmo como iniciara, o problema foi com a Carmelita que ficou vários dias com uma forte dor torácica, mas ninguém lembrava da fratura nas pernas e na violência como fecharam à boca de Seu Carlão que jaz em seu túmulo tranqüilo e dormindo o sono eterno.

Tânia Suely Lopes
Enviado por Tânia Suely Lopes em 21/06/2011
Reeditado em 22/06/2011
Código do texto: T3049303
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