070 - UM PRESENTE INESQUECÍVEL...

Casados há mais de vinte anos, três filhos, dois meninos, a caçulinha uma linda menina, lutaram e economizaram todos os centavos para comprar uma linda casa em conjunto habitacional fechado dotado de toda segurança que sonhavam para seus filhos.

Faltava alguma coisa naquela casa, alguma coisa sempre desejada desde os primeiros anos de casados, faltava um móvel que ela sempre sonhara em ter em sua sala de visitas, um sofá de couro na cor branca.

Resignada ia sempre adiando a compra e os motivos eram os mais diversos, estudos das crianças, compra de um novo carro, agora a compra da casa que exauriu todas as economias da família, mas ela nunca reclamou sabia que seu esposo era muito trabalhador e também muito econômico, haveria de transformar o seu desejo em realidade, assim o sonho da compra do sofá nunca esmoreceu.

Fim de novembro, Ele saindo de uma loja de móveis, ao entrar em seu carro a má sorte junto entrou, ladrões que assaltaram uma joalharia nas proximidades perseguidos pela polícia se aproximavam perigosamente e ele no desespero tentou acelerar o carro bruscamente, o ladrão desejoso do seu carro, atirou covardemente em sua cabeça, o arrancaram lá de dentro e o jogaram no meio da rua fugindo a seguir em seu veículo. Já estava morto quando os primeiros socorros chegaram, e ninguém prestou atenção em um papel que caiu do seu bolso que o vento ululante foi levando pra bem longe.

O mês de dezembro chegou, e os dias foram lentos e penosos naquela casa, véspera de natal, eles sempre faziam uma bela ceia, agora todos mudos, recolhidos em si, poucas palavras, quando de repente ouviram o som da companhia:

- É aqui que mora a dona fulana de tal?

– Sim!! Porque?

O homem com outros ajudantes foram abrindo as portas do baú do caminhão descarregaram e entregaram um belíssimo jogo de sofá, um sofá grande que comportava três pessoas e mais dois menores.

A infeliz da mulher toda trêmula e gaguejando, mal conseguiu assinar a nota da entrega, quando o motorista:

- Poxa! Quase ia me esquecendo, tem esta carta pra entregar também!

Os sofás já colocados na sala, neles toda família se sentou e ela desesperadamente foi abrindo a carta:

- Minha querida! Desde que casamos eu sei que você sempre sonhou em comprar um jogo de sofá de couro, na cor branca, presente que tantas vezes adiamos a compra, mesmo assim você nunca mostrou contrariedades, nem fazia gestos de descontentamento quando visitávamos as lojas e ao fazer as continhas víamos que o valor do sofá ultrapassava nossas possibilidades financeiras. Caladamente eu sofria junto com você pelo adiamento daquele sonho, tínhamos outras prioridades. Meu Amorzinho! Por tanta paciência na espera, por tantos carinhos que nos dá, por esta amizade, por esta felicidade que vivemos, do fundo do meu coração eu te digo, muito obrigado!

Entre lágrimas eles se abraçaram agradecidos quando ela falou:

- Meus filhos vamos cear, façamos de conta que o Papai está aqui com a gente.

– Mas, Mamãe o Papai nunca nos deixou, veja lá na mesa!

– O que?

– Eu já coloquei lá o vinho que ele tanto gosta e a taça que ele usa!

– Minha filhinha adorada, ainda bem que você lembrou do vinho! Os anos passaram e ela sempre ao arrumar a mesa para as refeições colocava o prato, os talheres, o vinho e a taça para o seu finado marido, os filhos cresceram, estudaram, casaram, e ela sempre sozinha, gostava de sentar no sofá para fazer o seu tricô, crochê, das vezes acompanhadas pelas amigas da vizinhança.

Quando lhe perguntavam por que ela não casava, assim teria uma companhia, ela prontamente respondia:

- Mas Eu já sou casada, meu marido está viajando, quando estou deitada neste sofá eu sinto a presença dele ao meu lado, eu nunca me senti abandonada ou sozinha, nunca tive problemas de solidão, converso muito com ele, das vezes damos belas gargalhadas ao lembrar dos tempos passados, todas as noites ele vem dormir ao meu lado, quando estou pelas ruas ele esta sempre juntinho a mim! Não há um só momento em minha vida que ele não esteja ao meu lado!

Mas o tempo é inexorável, Ela agora idosa se ajeitou no velho sofá de couro branco todo corroído pelo uso, presente inesquecível do grande amor da sua vida, em velhas almofadas apoiou sua cabeça, suspirou profundamente, ajeitando melhor seu corpo e com um sorriso estampado na alma adormeceu, adormeceu pra nunca mais acordar, foi viver com seu esposo em uma outra realidade...

Ah! Aquele papel que o vento levou... Era a nota fiscal da compra dos sofás!!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 14/06/2011
Reeditado em 14/06/2011
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