Amor cego (ninguém é dono de ninguém)

Um dia a conheci e ela me cativou, em um outro meus olhos captavam apenas sua presença doce, constante e de um fascínio que jamais vi em outro alguém, logo ela estava sempre ao meu lado e ao meu lado reparou nos meus erros e defeitos em sua visão, mas era mesmo a sua visão que me importava, eu passaria a vida inteira ao lado de tão doce criatura pois era o que meu coração dizia, mas o coração engana-se e muito. Acreditava que a única pessoa que faria com que minha vida tivesse sentido era ela, em tão pouco tempo ela me transformou e eu faria tudo o que ela quisesse.

Certa vez ela começou a incomodar-se com meus pais, eles não gostaram e reclamaram a mim e eu claro também não gostei nada disso e briguei com eles (porque não cuidavam de suas velhices ao invés de criticar minha amada), falei que os odiava, que eles eram infelizes e queriam que todos fossem como eles, os magoei e levei o primeiro tapa em meu rosto que veio das mãos trêmulas de minha mãe, achava que apenas eu sabia o que era melhor para minha vida, um homem deve ter o direito de amar uma mulher e eu já estava muito crescidinho e resolvi sair de casa de modo que ninguém se intrometesse mais com os meus desejos, eu não precisava mais deles e de mais ninguém a não ser minha amada .

Um dia meus amigos me ligaram me chamando para sair e ela estava comigo e quis que eu ficasse em casa, eu fiquei e isso foi se repetindo outras vezes, muitas vezes, até que pararam de me ligar pois sabiam que eu não iria, então decidiram aparecer lá em casa, fiquei feliz, ela fechou a cara, não gostava deles, de nenhum, não queria mais que eu permanecesse perto deles e eu mesmo triste acabei inventando histórias para não encontra-los e me afastei de todos pois já possuía a pessoa mais importante de minha vida "ela", o mesmo aconteceu com meus irmãos ou com todos que se aproximavam de mim (eles tentaram até abrir meus olhos mas eu achava que eram um bando de invejosos e não entendia porque tanto a criticavam). Ia a missa todas as manhãs e ela passou a não gostar mais que eu fosse e para satisfazer as vontades dela ficava em casa a contempla-la, o tempo passou e eu me deixava ser podado me tornando um fantoche , estava em sua mãos , nunca mais liguei para meus pais, irmãos ou amigos, também nunca mais rezei mas nada me fazia falta se ela estivesse ao meu lado, certo dia ela me chamou de canto e disse que estava apaixonada por outro rapaz que tinha um "mundo" de qualidades que eu não possuia, então sofri, chorei e me humilhei falando que a amava, porém ela não teve piedade alguma e se foi, se foi sem olhar para trás, como se eu fosse apenas um objeto dispensável, descartável e eu fiquei sozinho, sem família, sem amigos e sem identidade. Ela roubou minha alma mas eu a recuperei, não foi fácil, passei por momentos onde me lamentei, onde a culpei mas chegou um instante onde eu passei a me perdoar a perdoa-la e deixei de lado todo orgulho e vergonha que tinha e pedi perdão aos seus pais, depois aos seus irmãos e aos amigos, muitos desses ficaram magoados e outros tantos não me perdoaram por eu ter faltado no momento que mais precisaram de mim, aprendi que algumas perdas por nossas atitudes são imutáveis mas sempre é possível nos transformar em algo melhor, hoje me sinto liberto não tenho medo de me aproximar das pessoas, meus amigos estão sempre ao meu redor e vejo que nada daquilo me valeu a pena , nenhum amor deve nos manter preso, isso não é amor de verdade, ninguém é dono de ninguém.

OBS:Texto extraido de uma história que ouvi certa vez em um ônibus de um rapaz que conversava com um de seus amigos e achei muito interessante pois muitas vezes o amor nos torna um tanto cegos especialmente porque quando nos unimos a alguém nos tornamos uma só pessoa, mas temos de ser espertos e não deixar de ser nós mesmos por causa de pessoa alguma, nunca devemos esquecer de nossa familia e de nossos amigos em nenhuma situação eles nos amparam quando necessitamos mas se não cultivarmos a amizade deles ela morrerá tal como um belo jardim ao não ser regado.

P.s: Amar deve ser um complemento, algo que nos faça realmente felizes e não um peso, uma dependência ou uma prisão.