O coração não sente.

O mundo parecia escuro, mesmo após o alvorecer legitimo de um sol esplendoroso, naquele peculiar vilarejo tudo permanecia em silêncio.

Ela, porém, acordou irritada com a luz do sol castigando os seus olhos, os quais insistiam em um sono perturbado, tudo aquilo lhe parecia um tédio absoluto, desejando por um instante que o sol não existisse.

Ao meio dia se prontificou a preparar a comida e pôr a mesa, limpou o grande salão, arrumou as roupas e colocou as cordas para organizar a fila. Já completava quinze anos repetindo o mesmo ritual todos os dias, assistindo com os seus olhos a desgraça alheia, todos os moradores do vilarejo eram cegos. Algo como uma falha genética que falhou em falhar dando a visão apenas para Vidi.

Antes de Vidi nascer, a vila era um caos incontrolável, todos se comportavam como uma turba desorientada se debatendo e até mesmo se prejudicando com conseqüências fatais, no entanto quando Vidi nasceu tudo se organizou, pelo poder de ver ajudou todos a se organizarem e viver em harmonia.

Mesmo talvez parecendo uma benção, a visão era fardo pesado demais para uma adolescente cheia de sonhos, e lhe parecia fútil poder ver todas as cores e belezas do mundo, porem não poder descrevê-las, enxergava nitidamente, mas nasceu no silêncio da mudez.

Lamentava a sua sorte neste dia, pensou em fugir da vila, daquela prisão que não merecia estar, no entanto sabia no que acarretaria a sua partida, tragédia e logo depois culpa. Se ajoelhou e quando tentou gritar se surpreendeu com o som que explodiu na sua garganta.

A vila toda ouviu.

E quando ela começou, com toda a alegria, a descrever o mundo que via...

Foi morta, por insanidade.

Em terra de cego, quem tem um olho é infame.