QUANDO A VACA FOI PRO BREIJO

Na minha infancia e adolescência uma das tarefas que a mim couberam, foi vistoriar as vazantes com seus numerosos atoleiros nos brejais que margeavam o rio picão.

Na seca com a escassez de pasto verde o gado enfraquecido e faminto aventurava adentrando nas partes mais alagadas se tornando presa fácil para os atoleiros. Esta vigilância sempre ocorria após recolher o grande numero de porcos criados a solta nas palhadas e nos brejais, outra tarefa de mimha resposabilidade. Jamais eu poderia deixar de realizar, uma vez que se a criação dormisse num atoleiro era acometida por hipotermia e não se levantava mais, rastejando até a morte. Muitas vezes após ser retirada do barro teria que ser aquecida com fogo até conseguir se levantar.

Muitas foram salvas graças a esta vigilância e a boa vontade da pionada que sempre estavam dispostos a colaborar no seu resgate. Alta hora da noite caminhando dois ou três quilômetros para salvar uma rês.

Uma empreitada de certa forma até divertida. Quando a criação dava ponto de rapadura sapecada, no dizer dos caboclos referindo-se a ela, quando estressada, resolvia partir pra cima da turma num verdadeiro espetáculo circense.

Certa ocasião após resgatar uma novilha muito brava ela partiu pra cima da turma, todos correram, ela atolou novamente, um local muito alagado, enquanto amarravam as cordas para nova tentativa, Nego do Baldo, um homem muito sério e reservado comentou: - arrumei um lugarzinho bão pra esconder de traz daquela moita, ao retirar a novilha, ela deu nova investida, Zé do Meio correu pra tomar o lugar do Nego, novamente a novilha atola, enquanto botavam as cordas para nova tentativa, Zé comentou – uai Nego lugarzinho bão aquele seu sô! Quando a novilha deu nova investida Chiquinho Estêvão muito esperto imaginou em tomar o lugar dos dois, deu um salto por cima da moita afundou até no pescoço, o local era uma parte de lama movediça. Por sorte a novilha a essa altura já estava se juntando ao gado na parte seca em seu malhador. Fez a maior farra com a retirada do companheiro que saiu todo lamiado um frio cortante que assoviava. Pra compensar a trabalheira quando voltávamos, minha mãe estava nos esperando com uma porção de biscoitos fritos na gordura de porco, e uma balde de leite adoçado com rapadura; uma delicia.

Atualmente dos companheiros só resta à lembrança remoendo minha saudade.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 01/11/2010
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