O HOMEM SEM LINGUA E SEU CACHORRO SEM NOME

Miriam conseguiu seu primeiro emprego, trabalhando no caixa de um supermercado, foi à realização do sonho alimentado desde criança, quando ela se encantou com a gentileza da funcionara que lhe atendia, em momentos que acompanhada pela mãe, elas pagavam ali, seus salgadinhos e guloseimas com aquele sabor de infancia.

Tão doces como aqueles caramelos esta lembrança aprimorava cada vez mais sua capacidade no relacionamento a com clientela. Causando admiração e cativando patrões e colegas de trabalho com a sua doçura.

Dentre aquela legião de pessoas que todos os dias passavam pelo seu caixa, estava aquele senhor já idoso e simpático, com a aparência de militar aposentado.

A cada dois dias, La estava ele de sextinha na mão com seu agradável semblante, sem dizer uma única palavra, pagando com seu cartão de crédito os enlatados, lanches, e o pacote de ração, para seu cão, que educadamente o aguardava na rua, em frente ao caixa de onde Miriam tinha uma perfeita visão ao longo da movimentada avenida,na qual seguia o cliente acompanhado por seu melhor amigo. Talvez o mais fiel cliente daquele estabelecimento comercial desde sua abertura. Seu trajeto era periciado pelo olhar de Miriam até desaparecer no final da avenida ao meio dos inúmeros transeuntes.

Embora sem saber a cor das palavras daquele simpático senhor ela sentia que algo a deixava confortável em sua presença. Tomada por uma grande afeição, o tratava com todo carinho, não sabia o que, mas alguma coisa naquele homem ti atraia, seria aquele olhar de ternura que a encantava tanto?

-Às vezes chegava a invejar seu animal que o aguardava paciente evitando não perturbar nem mesmo aqueles que por ali transitavam. Como se fosse também um ser humano, parecia reconhecer seu lugar e jamais adentrava o estabelecimento.

Afastada do trabalho gozando férias levou consigo a imagem daquele cliente, onde quer que esteja não conseguiu tirá-lo do pensamento. Seus carismas seu olhar terno.

Comentou com a mãe a respeito daquela estranha atração. Passou a ela as cacteristicas do homem, mas a mãe desconversou. Ela insistiu no assunto, sendo repreendido, com a mãe dizendo ser impossível ela com aquela idade se apaixonar por um velho que além de tudo deveria ser mudo.

Ela justificou dizendo que aquele sentimento era na verdade um estranho sentimento de respeito, não de um amor sensual.

Ao retomar sua função no trabalho aguardou com ansiedade a presença do seu ídolo, mas ele não apareceu. Perguntou ao colega, que a havia substituído, ele disse que poucas vezes o atendeu. Com certeza deveria ter sido atendido por outro funcionário. Alguns dias passaram, e do cliente nem sinal. Já decorrido uma semana Miriam notou a presença do cachorro a frente da loja no lugar do costume. Imaginando ter ele entrado sem que ela percebesse aguardou sua passagem pelo caixa, o que não ocorreu até o momento de encerrar o expediente. No dia seguinte o cão apareceu novamente. A mesma rotina. No terceiro dia ao encerrar a atividade, o cão estava La no lugar de sempre, acompanhando com o olhar sua movimentação. Ela comentou com seu colega de trabalho a respeito do procedimento do animal, se dizendo preocupada. Convidada por ele que se dispôs a acompanhá-la o seguiram. Ao perceber que os dois conversavam sobre o assunto, o cachorro se manifestou festejando dando sinal que entendeu a mensagem. Seguido pelos dois os levou a um bairro nobre. Num luxuoso condomínio encontraram o pobre homem acamado e febril. Acionou uma viatura que o conduziu ao hospital aonde ele já chegou sem vida. Na autópsia constatou-se morte por falência múltipla de um indivíduo, cuja língua fora mutilada talvez por um inexplicável acidente com um produto químico.

Foram examinar seus documentos constataram ser ele um ex-pracinha de guerra. Que deixava em testamento todos os seus bens para sua desconhecida filha cuja mãe o havia abandonado, ao tomar conhecimento de sua deficiência pós-guerra, e jamais dera noticia da filha, que nascera após sua partida. Sabia apenas, por uma velha carta amarelada pelo tempo, recebida no campo de batalha, que a filha havia nascido e recebera na pia batismal o nome de Miriam.

E junto uma carta escrita de seu próprio punho, solicitando as autoridades procurar pela filha entregando-a seus bens, e recomendando a guarda de seu cachorro sem nome!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/10/2010
Reeditado em 15/10/2010
Código do texto: T2550606
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