Histórias que ouvi contar I (o Tamanho do medo)

Meu pai sempre dizia que o tamanho do medo quem faz é você.

E falava por experiência própria...

Contava ele, que quando ainda jovem gostava de jogar e que na pequena cidade onde morava existia casas de jogos de azar.

Lá se jogava cartas, dominó e outros jogos que não lembro os nomes apostando dinheiro.

E ele que se dizia um bom jogador passava horas e horas jogando e perdendo o pouco dinheiro que ganhava na labuta diária.

Até que uma noite, segundo ele, saiu do cassino mais ou menos as quatro da madrugada e veio caminhando. Em 1947 podia-se caminhar a essas horas da manhã.

Acontece que para chegar a casa tinha que atravessar um lugar, que em minha imaginação batizei de “alameda das bananeiras”, já que ele dizia ser um corredor longo e com bananeiras de ambos os lados.

Bom, nesse dia ao chegar ao dito sitio sentiu um arrepio e quis voltar, mas era um homem destemido e resolveu enfrentar.

Caminhou sempre com a sensação de que alguém o observava. De repente olhou prá cima e viu dois braços longos vindo em sua direção, quis correr, porém as pernas não obedeciam e começou a sentir o frio aumentar, pois a cada passo que dava, os braços tentavam lhe pegar.

A coisa ficou feia quando os braços se multiplicaram e apareceram longos dedos que como garras teimavam em lhe atacar e furar-lhe os olhos.

Não dava para correr. Ele não conseguia nem levantar os braços para se defender e a única coisa que o medo lhe permitiu fazer foi apelar.

- Valha-me minha nossa senhora!

E desmaiou.

Acordou com o clarão do dia e uma porção de folhas secas de bananeiras acima do rosto balançando para lá e para cá ao sabor do vento.

Não deixou de jogar até muito tempo depois, no entanto sempre fez o caminho mais longo para não passar na “alameda das bananeiras”.

Arlete Araújo
Enviado por Arlete Araújo em 08/10/2010
Reeditado em 08/10/2010
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