SACANAGEM DE SACRISTÃO

SACANAGEM DE SACRISTÃO

Ao término da celebração vespertina o padre fechou a igreja e dirigiu para casa. No coreto da praça um moleque estava encurralado por um grupo da mesma idade que a sua. Ameaçado sabe-se lá por que. Esbravejando o padre afastou o grupo, e levou consigo o moleque. Deu a ele um lanche, o colocou pra dormir no cômodo ao fundo de sua casa. No dia seguinte antes do por do sol, ao sair para a celebração da manhã. Notou que seu jardim estava molhado e na horta havia algo diferente, nos canteiros a terra estava remexida logicamente alguem cuidara dela pela madrugada. Seguiu seu destino celebrou missa. Ficando na igreja até o horário de almaço como sempre fazia em sua rotina de trabalho. Por nem um momento, lembrara do seu jardim molhado nem sua horta de terra remexida, nem tampouco que levara um moleque pra casa. Ao retornar para o almoço ficou surpreso o moleque havia dado uma bela duma faxina no seu pomar deixando tudo um brinco. Muito contente o padre o levou a uma loja comprou roupas e calçados, mandou aparar cabelos e unhas que há tempos não via água nem sabão. Fez uma reforma completa no pivete. Começou a ensiná-lo boas maneiras, e ele aprendia tudo com muita facilidade. Logo já estava apto ajudando nas celebrações. O padre muito entusiasmado não cansava de apresentá-lo aos amigos.

Como os coronéis da antiguidade não confiavam em ninguém, não perdiam oportunidade alertando o religioso:- padre! Padre! Cuidado com o moleque não esqueça que milagre só acontece, um em cada século.

O santo pode ser do pau oco! Mas o padre dizia que os amigos estavam blefando e pouca miséria é bobagem.

Não levou tempo nenhum o moleque começa botar as manguinhas de fora. O padre tomava rapé e tinha seu burro de estimação, muito ensinado por sinal. Em suas viagens ele dizia ao burro, - hora de tomar rapé o burro parava, ele tomava seu rapé dava meia dúzia de espirros e seguia viajem. O moleque aproveitando a ausência do padre montava o burro e saia pela periferia da cidade. Dizendo hora de tomar rapé o animal parava, ele cortava o bicho de espora, em pouco tempo bastava dizer hora de tomar rapé! O burro arrancava a mil por hora. O moleque feliz com o burro falou consigo mesmo agora são os gatos! O padre gostava por demais de gatos e tinha lá seu departamento muito bem equipado e mais de vinte gatos. O moleque arrumou um crucifixo e um chicote mostrava o crucifixo aos felinos e dizia Jesus Cristo! Cortava os bichanos no chicote, em pouco tempo, bastava dizer ou mostrar a cruz era só gato saltando pelas paredes.

No domingo após o almoço o moleque disse: - padre sabia que gato tem parte com o demônio? Donde você tirou isso Demétrio? Então pegue um crucifixo e vá até eles e diga Jesus Cristo e veja o que aconteça! Assim foi feito o padre abriu a porta do seu gatil quando os bichanos os rodearam, ele disse: Jesus Cristo! Tem gato correndo até hoje!

Na seqüência mandou o sacristão selar o burro e foi visitar alguns fiéis fora da cidade levando-o com ele também. Em outra montaria. Em sua primeira tentativa em tomar seu rapé, assim que pronunciou é hora do rapé, antes de fechar a boca já estava de costas na lama. Custou-lhe meses de recuperação sem poder trabalhar. Feliz o moleque sorria por dentro de si com o grande feito produzido por suas travessuras.

Já bem crescido estava sempre aprontando, mas o padre aprendeu amá-lo de tal forma que fingia nada estar acontecendo. Ia tolerando de repente o descobriu bebendo seu vinho.

Começou colocar xixi na garrafa. Logo o moleque parou. Imaginou ainda bem criou juízo! Ledo engano sendo ele que providenciava seu rapé, fez um pó de bósta e colocou na cornicha. O padre tomou uma boa narigada. Como ele estava no banho gritou: - Demétrio onde tu compraste esse maldito pó? Naquela fábrica cuja parede fás divisa com sua fábrica de vinho gostou dele seu padre?

O padre pê da vida disse sozinho lá com seus botões – há moleque você me paga! Dias após Demétrio foi acometendo de uma forte gripe. O padre logo imaginou quem tem horta nunca deve couve! Agora vou me vingar preparou várias pílulas de bósta, fez um chá bem forte e deu a ele, dizendo - tome o chá e todas estas pílulas por que isso são tiro e queda cura mesmo! Realmente ficou curado. No domingo seguinte na hora da missa que era celebrada ainda a moda antiga o celebrante de costas para a assembléia. Quando o padre abaixava em seu ritual, o publico caía na gargalhada. O padre virava era um silencio profundo. Lá pela quarta ou quinta vez ele pergunta ao sacristão, - do que o povo tanto ri? –Você esqueceu a porta de sua fábrica de pílulas aberta! O padre não tinha O hábito de usar roupa por baixo da batina, e pra se vingar o moleque cortou um circulo em sua batina assim que agachava seus documentos ficavam a mostra.

Depois desta Demétrio perdeu seu tutor e corre pelo mundo até hoje como andarilho, aprontando das suas com os mais desavisados.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 18/02/2010
Código do texto: T2094323
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