A FOME DO TRABALHADOR RURAL (ESPETÁCULO DE VIDA)

O menino era triste e andava pelo Sertão, em meio aos canaviais, chorava de fome e dizia: Oh, mãe, cadê o de comê? tô cum fome, amarelo de fome, vô morrê. O sol queimava sua pele, negro amarelada, e na mesa do dono, havia comida farta, mas, que nada, negro não é gente, é somente o som de uma palavra. Na hora de collher a cana, o menino com as mãos cortadas, via o sangue descer, nas mãozinhas geladas, reclamava: Oh, mãe, tô cum fome, qui peste é esta, que num ataca o canaviá, mais, ataca meu sintido noirmal, tira o sal do meu suó, que da nossa dor, faz resprandecê o açucaa, que droga de vida, mãe! Quanto ocê vai cobrar, e, quando ele vai pagar? Quem sabe até lá, posso comprar um chinelo, e uma calça! Quem sabe, quando a gente chegar perto do home, ele tem dó de nóis, e mata nossa fome! Vai não fi, ele nem sabe quem é nóis, tá nem aí, pra nossa fome, qué mesmo, é o fardo que seguramo na costa, e azar pra nóis. Óia mãe, quando eu crecê, vô te dá tudo bom de cumê, num vai foltá nada não viu mãe! Tô precupado, com o zezin, coitadim, ele tá fraco dimais, eu sei que sô rapaiz, e que com meus deis anos na costa, num posso reclamá, das minha responsabilidade. É fi, as coisa vai melhorá, disse o moço do plantio que o guverno, vai dá bolsa pra familha, mas, o causo é que já pidi, e, tem um povo aí, que tá apruveitano, da nossa bolsa, quero nem sabê, vou dá o grito, os filho deis come, e os meu? É mãe, povo mau né! nem tem dó da gente miseravi, nem dá cumida pra nóis, nem ajuda nóis, mais eu vô, sê dotô, cê querdita mãe? craro fi, num sei si vô ta mais aqui, mais querdito. Oh, mãe, dá um poquinho da água da cana? dô não fi, se o zoto vê, nóis pode inté apanhá, oh, Deus, que povo mau heim, nem vê que nóis tá com fome, que isso pesa nas costa, que a faca perdeu os dente, que o canaviá tá bunito pra daná. Tá bão mãe, vô só ali no brejinho, tomá uma aguinha, vai não fi, se nóis demorá, é pirigoso eis vim cá, e se num tomá cuidado, pode até matá nóis, tá bão mãe, vão lá, continuá nossa labuta. mais esse povo vai pagá nóis, tem fé im Deus, que nóis vai tê dinhero pra compra esse canaviá.

Oh, fi, vão pará de falá, proque, quanto mais nóis fala, mais nossas boca fica seca e nosso estomigo ronca. Tá bom mãe, pega isso aí, joga aqui nas minha costa, e vão imbora, corrê atrais do dinherinho, nóis tem que levá cumida pro zezin. tão vão fi, pra mode nóis discansar, proque amanhã, de novo nóis vai madrugá.

É mãe, nóis é trabaiadô rurá, mais ninguem sabe que nóis, faiz parte deste espetacro de vida num é? É fi, mais tá bom, pelo menos nóis tá vivo.

Del Dias
Enviado por Del Dias em 07/07/2009
Código do texto: T1687334
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