A vida de uma criança sem medos.

Juliano tinha apenas 11 anos. Mas era um garoto excepcional. Ele era um aluno nota dez – estava no sexto ano do ensino fundamental. Sua mãe, Marilia, escrevia poemas. Seu pai, Marcos, era um economista – temporariamente morador do EUA. Juliano tinha a vida que pediu a Deus: tinha casa, comida. Estudava em um colégio de renome. Sua mãe lhe fazia todas as vontades e seu pai lhe dava tudo o que queria. Juliano era feliz. Ao menos era o que pensava.

Tudo aconteceu em uma terça-feira, especificamente dia 27 de fevereiro. Juliano recebeu um trabalho que ele achou um pouco difícil: ele teria de visitar uma comunidade carente, juntos de dois amigos e responder a um questionário, com três questões. Eis elas:

1º O que é o medo?

2º O que é a fome?

3º Como vencer a violência das ruas?

Digamos que o trabalho era pequeno. Porem o conteúdo era infinito.

Juliano contou a sua mãe sobre o trabalho, e esta se espantou. Mas nada fez para ajudar os meninos – estava ocupada com a visita de Marlene, uma decoradora de Milão. Juliano resolveu pesquisar e encontrou uma comunidade perto de sua casa: Favela. Uma comunidade com um nome um tanto estranho. Algo fora de seu mundo. Mas tudo bem, não poderia ser tão ruim assim.

Juliano e seus amigos partiram para a Favela. Quando lá chegaram, mudos ficaram. Viram crianças brincando de bonecos, sem bonecos. De ladrão e bandidos. E não de policia e ladrão. Viram crianças bebendo e fumando. Olharam a sua volta e pensaram em voz alta: “O que estamos fazendo aqui?”. Ficaram com um pouco de receio, ou melhor, um pouco de medo.

Quando desceram do carro, alguns pararam e ficaram encarando eles. Mas logo veio uma moto e as atenções desviaram-se.

Juliano pensou em como iriam conversar com aquelas pessoas. Foi quando o destino lhe deu a resposta: uma pipa caiu a sua frente. Ele rapidamente pegou. Uma voz fraca então chamou ao fundo: “Ei é meu!”. Juliano devolveu e apresentou-se. O menino disse que não tinha nome, mas os amigos o chamavam de “boca-de-gato”. Boca-de-gato chamou Juliano para brincar com ele e os outros meninos. Ele prontamente aceitou. Brincaram de pega-pega e pique - esconde. Juliano ficou com fome. Foi então que teve a ideia de ir comprar um lanche. Mas onde? Não conhecia nada por ali. Resolveu perguntar. Boca-de-gato lhe disse que por ali não tinha “lanchunete”. Juliano perguntou então onde ele poderia comer. Boca lhe convidou para almoçar em sua casa. Subiram o morro então.

Ao chegar, Juliano novamente espanta-se: que visão horrível. A casa de boca mais parecia um lixão. Estava cheia de entulhos e matérias um tanto quanto estranhos. Mas tudo bem, boca era um cara legal. Entraram. A mãe de boca disse que o almoço estava pronto: feijão com farinha de trigo. Mas o que! Juliano nunca havia comido isso. Só que por educação comeu tudo e disse que estava muito bom. Quando Juliano ia saindo, começou um corre e corre. Uns barulhos de tiro. E boca disse para que esperassem. Alguns minutos depois, o tiroteio acabou. Boca levou Juliano e os amigos para fora da Favela, onde o carro os esperava. Foram embora e Juliano encarregou-se de responder as questões. Quando chegou a casa, sua mãe nem lhe perguntou onde esteve o dia todo. Só mandou que fosse tomar banho, pois iriam jantar fora. E quando voltasse terminaria o trabalho.

Passada uma semana, a professora devolveu o trabalho. Porem disse que iria ler as respostas de Juliano.

1º Medo é chegar a uma Favela, sendo que eu vivi a vida inteira em shoppings, lanchonetes e no condomínio.

2º Fome é ter comer feijão e farinha, enquanto outros comem lagosta à la carte.

3º Como resolver a violência? Esperando o tiroteio passar, e pedir para um amigo te levar embora.

"Leiam minha apresentação: http://www.recantodasletras.com.br/cartas/2394709"

Le Vay
Enviado por Le Vay em 26/05/2009
Reeditado em 23/07/2010
Código do texto: T1615475
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.