O SONO

As pequenas cidades do interior não têm vida noturna. Depois das 22 horas, os moradores se recolhem para o imprescindível repouso reparador.

No entanto, existem aqueles que têm o hábito de se recolherem mais tarde e aproveitam para, em pequenos grupos, conversar, madrugada adentro. O prefeito da cidade Santa Cruz (RN), Hildebrando Teixeira, era um dos que costumava estender-se nas conversas até altas horas.

Foi após uma dessas conversas, já no avançado da noite, que os amigos Hilton, Lula, Bulhões e o narrador desta estória resolvemos tomar uns pileques. Passava da meia noite. É evidente que todos os bares da cidade estavam fechados, mas a solução não se apresentava distante: Dona Maria Anjo, cujo bar funciona em sua própria residência, com certeza nos atenderá – anunciou Bulhões.

Seguimos todos para o estabelecimento comercial de Maria Anjo. Batemos à porta, ao tempo em que anunciamos os nossos nomes, seguidos dos nomes dos nossos pais: É Djahy, de Ivahy; Hilton, de Augusto Fernandes, Lula de Vicente e Bulhões, de Zé Galego.

Dona Maria Anjo, renunciando ao seu repouso noturno, generosamente, abriu a porta do seu estabelecimento, que comercializava bebida e tira-gosto, sem contar que também estavam na prateleira, jovens garotas procedentes, geralmente, da região do Brejo paraibano.

Farra consumada, conta era, incontinente, apresentada. Numa folha de papel destacada de um caderno co m espiral, sobejavam números dispostos em desalinho e sem especificações dos produtos consumidos, mas com destaque para o valor total.

- Dona Maria! Pelo amor de Deus! Tudo isso? – disse Hilton, espantado com o valor a ser pago.

- Por favor, Dona Maria, explique-me, direitinho, o que significa cada um destes valores – disse Lula espantado com a conta a ser paga.

E Maria Anjo começou, pacientemente, a esclarecer:

- Vinte cruzeiros, de cerveja; quinze de...

- E estes dez cruzeiros, Dona Maria, o quê significa? – perguntei.

- Esses dez, respondeu a comerciante com excepcional naturalidade: é o sono.

A questão foi devidamente esclarecida e aprovada por todos:

- OK! Dona Maria. Muito justo.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 02/04/2009
Reeditado em 02/12/2017
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