Caixão de defunto no cafezal

A superstição do sertanejo brasileiro é rica em exemplos de acontecimentos que possam estar relacionados ao prenúncio da morte, ao mau agouro. Se a coruja piar é morte na madrugada. Ver um corvo grasnando é morte próxima. E gato preto pela frente, salta de banda que é azar dos maiores do mundo.

Agora esse relato que vou fazer foi contado por meu pai. O fato aconteceu quando ele ainda era rapaz, nem havia se casado com a minha mãe.

Era costume dos jovens que moravam na roça ir para a cidade aos sábados e domingos para se divertir. E não tinha ônibus e nem carro como agora, era a pé mesmo. A família do meu pai morava a uns dez quilômetros da cidade de Barbosa Ferraz e era todo esse trajeto que ele e os meus tios percorriam no escuro quando iam e vinham à noite, num escuro total.

A lua cheia estava toda imponente no céu, iluminando os passos de meu pai e de minha tia Lúcia, isso por volta da meia-noite, quando vinham de uma festa na cidade. Os dois caminhavam pelo meio do cafezal, através de suas ruas como os caboclos chamam, que estavam limpinhas e assim iam contornando pés e mais pés de café. A extensão da plantação era enorme, ainda mais nas planuras do Paraná.

Em certo ponto do caminho, já bastante embrenhados no cafezal, meu pai sente um calafrio e no mesmo momento olha para o lado. Ele não acredita no que os seus olhos viram, um enorme caixão de defunto, um caixão preto, ali no chão, dentre os pés de café. Foi o maior susto, mas ele se conteve, pois minha tia era muito nervosa.

Por imposição de meu pai, o dois começaram a andar mais rápido. Minha tia obedeceu sem saber o que estava acontecendo, mas já meio ressabiada. E quando chegou no sítio, já dentro de casa e tomando um cafézinho para esquentar os ossos, é que meu pai contou a ela o que ele tinha visto. Ela arregalou os olhos e sentiu-se aliviada por meu pai tê-la poupado da visão. Caso contrário ela garantiu que caía durinha ali mesmo no meio do cafezal. E a história ficou somente entre os dois manos.

Alguns dias depois, minha vó Ana, mãe deles veio a falecer. E meu pai ligou a visão ao triste acontecimento. Sendo assim não nos cabe julgar se essas superstições do povo brasileiro são ou não verídicas, apenas respeitá-las e pensar sempre em encontar coisas boas pra gente como uma ferradura, um pé de coelho ou um trevo de quatro folhas.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 04/11/2008
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