Igreja assombrada

Quando era criança, quase sempre, eu ia com meus pais para Corumbataí do Sul, antigo distrito de Barbosa Ferraz, no norte do Paraná.

Na beira da estrada tinha uma igreja, toda de madeira, mais ou menos no estilo daquelas antigas igrejas norte-americanas que podemos ver nos filmes de época.

A cor da igreja era rosa claro e tinha um bela torre em frente e, no alto, o campanário para os sinos, mas não havia nem sinal deles lá mais.

Não sei se era para colocar medo em mim e na minha irmã caçula, mas toda vez que passávamos de carro ao lado dessa igreja, meu pai dizia que era mal assombrada.

A igreja estava fechada há vários anos e ao observá-la parecia mesmo uma grande mansão assustadora, tipo aquelas dos livros de terror. Só faltava era um cemitério, cheio de lápides, no jardim.

O que mais nos deixava com medo era o relato que meu pai fazia da época em que foram passar a rodovia por ali. Conta-se que ao passo que as obras de pavimentação chegavam próximo à igreja abandonada, os engenheiros se prepararam para demolir o templo, mas a partir da decisão vários fenômenos sobrenaturais começaram a acontecer.

Era acidente com as máquinas da Companhia responsável pela obra, inexplicavelmente começava a sair do caule das árvores um líquido vermelho assemelhado com sangue e dentre os funcionários eram vários os testemunhos de terem visto à noite, no alojamento, sinais de luzes no céu e também o aparecimento de almas penadas.

O fato mais cabuloso, entretanto, foi no dia em que demoliram a igreja. Foi tudo devidamente desmanchado. As tábuas e telhas foram empilhadas a uns duzentos metros do local. Aparentemente foi um sucesso.

Quando iniciaram o trabalho no dia seguinte , foi o maior espanto. A igreja estava lá, incólume, como se nada tivesse acontecido. Não teve quem não se arrepiou.

Outras tentativas de demolição foram realizadas, mas todas sem sucesso, pois a igreja sempre se reconstruía de um modo fantástico. E então foi decidido que ela ficaria ali mesmo, bem na margem da rodovia.

Não sei mais se essa igreja ainda existe e nem ao menos se as histórias que o meu pai nos contou eram verídicas. O que sei é que o imaginário do povo simples e trabalhador do nosso interior pode gerar belas histórias que nos prendem por alguns instantes ao mundo das palavras.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 24/10/2008
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