Causo de Assombração

Sempre é bom lembrar dos medos infantis. Vivíamos em um mundo onde uma simples sombra podia ser desde um dragão feroz até um terrível fantasma que queria nos levar para o mundo inferior. Mas nada é tão terrível quando criança do que os causos de assombração que nos contam os adultos.

Lembro até hoje do que me contava o meu vô, venerável Danga, a respeito de suas idas e vindas do sítio no qual morava na zona rural de Barbosa Ferraz, cidade no norte do Paraná, onde nasci.

Ele contava que em certo trecho do caminho, onde existe vários pés de eucalipto, quando começava a subir um pequeno morro, isso à noite, claro, o cavalo refugava, não queria seguir nem com reza brava. O animal já previa o que vinha pela frente.

Então no auge de sua mocidade e pleno de coragem, meu avô metia a espora na anca do bicho, esse refugava mas seguia seu destino, até que cercado pelas grandes árvores dos dois lados da estrada, em meio a uma névoa intermitente, o animal relinchava com certo ar de terror.

O cavalo então empinava e nessa hora meu vô olhava para trás e via os olhos vermelhos de uma alma penada puxando o rabo do animal. A coragem caía por terra, o arrepio gélido corria pelo carretel da espinha. Era meia-noite, a hora do terror.

Valei-me minha Nossa Senhora Aparecida! O remédio nessa hora foi rezar pra todo quanto é tipo de santo. E então, a assombração, o anjo caído, que não gosta de padre, de reza ou de santo, foge num piscar de olhos.

A sensação então é de pavor, de surpresa, de misticismo. Um mistura doida de sentimentos que deixa o caboclo confuso. Não consegue saber ao certo se o que viu é real, se foi um sonho enquanto dormia em cima do cavalo ou se tudo isso não passa apenas de um causo de assombração contado por um mineiro de 32. Mas que arrepia, arrepia.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 14/10/2008
Reeditado em 14/10/2008
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