O PAI DE DEUS

Retirado da Oralidade e Recontado a Meu Modo

 

Havia um lavrador, em tempos que já se foram, que a respeito de religião era um tanto ignorante e, por isso, passava horas e horas a cismar sobre quem fez o mundo.

Vai então, que certo dia, estando sozinho e persistindo no constante desejo de ter a bendita resposta, apareceu-lhe um homem envolto em vestes resplandecentes, que logo lhe perguntou, como se já lhe conhecesse, o que queria saber.

O lavrador sabendo estar diante de um ser celeste, lhe perguntou:

— Diga-me: quem fez o mundo?

Como o Generoso tinha a vaidade de não deixar nada sem explicação, lhe respondeu:

— Ora, essa é boa! Deus.

— E quem fez Deus?

— Ora, ora! O pai dele.

— Então, nesse caso, há dois deuses.

— Nessa é que eu não caio! Respondeu o Generoso indignado, mas satisfeito por ter de resolver uma questão complicada. Não senhor! Quem é o pai do Dr. Zé Nogueira [citava uma pessoa conhecida no lugar]? Não é o coronel João Nogueira?

— E então, que tem isso?

— Tem muito, porque o filho é doutor de medicina e o pai é fazendeiro. Também o pai de Deus podia não ser Deus. Ora essa!

— Tá certo! ®Sérgio.

Amo de coração esses artistas humildes de nossa cultura popular, que dão generosamente e anonimamente a sua arte, sem pensar em proveitos; procuram nela senão o seu prazer; e exercem-na com a simplicidade e inocência de quem pratica os atos mais comuns da vida. São, na suas simples histórias, mais artistas do que muitos outros mais hábeis, mais cultos e mais refinados.

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