Cartas Perdidas de Ocelot I - 4

Querida Dulcélia,

Nenhuma de minhas palavras será suficiente para expressar toda a dor que meu coração sente com a notícia que li em sua carta. Você sabe, meu amor, o quanto sonhei em segurar nossa criança em meus braços, mas os céus assim não o quiseram. Agora, no entanto, eu peço que descanse, guarde suas forças, pois não demorará muito mais para eu ir até você e fugirmos para bem longe da guerra que aflige estas terras. Eu deveria ter largado tudo antes e ido com você, minha alma sangra toda vez que penso sobre isso.

Digo que não falta muito para estarmos juntos, pois aconteceu algo nestes últimos dias. Quando eu falei para os empregados sobre o que me relatou na carta, o soldado amarrado a cama ouviu-me e sentiu empatia por minha angústia. Me chamou no quarto onde estava preso e tivemos nossa primeira conversa civilizada desde que chegou aqui.

Descobri que ele não é de Yanshur, mas de Cafarnaum, especificamente do leste. Isso significa que ele realmente está bem longe de casa. Ele me contou que perdeu a esposa e filho durante o parto pouco depois de ser convocado para a guerra. Conversamos por algumas horas sobre muitas outras coisas, inclusive sobre o fato de não tê-lo matado ao invés de cuidar de sua saúde.

Eu não poderia mais deixá-lo lá amarrado, então os soltei e permiti que fosse embora, pedindo-o que não revelasse para outros a nossa morada. Lhe entreguei mantimentos e nos despedimos. Logicamente, os empregados ficaram consternados, não confiavam na palavra de Anfiur, o Carnaunense. Eu também não, para falar a verdade. Achei por bem deixá-los ir embora com os suprimentos necessários, afinal, ainda tem mais comida aqui do que gente.

Eles se foram agora há pouco para a velha casa de inverno, ficarão junto de suas mulheres e crianças lá. Já eu, partirei em breve para você, não há muito mais para mim aqui sozinho. A guerra logo chegará aqui, Anfiur contando ou não. Além do mais, essa cas ficou grande demais para um homem apenas.

Com muitas saudades,

Seu amado, Ormano.

M Henrique
Enviado por M Henrique em 21/04/2024
Código do texto: T8046422
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