Cartas Perdidas de Ocelot I - 3

Querida Dulcélia,

Recebi ontem a sua carta e fiquei muito feliz com a expectativa do nascimento do nosso bebê. A hora do parto se aproxima e meu anseio é de que ele venha com saúde, apenas fico triste por não estar por perto para abraçá-los. Também é ótimo saber que meu tio está fazendo todo o possível para que tudo ocorra bem.

Meus planos de esperar a guerra por aqui amenizar para trazê-la de volta não está indo bem. Acredito que terei de tomar medidas drásticas, pois aconteceu algo na semana passada que pode colocar nosso resto de paz em jogo para sempre.

Em minha última carta, eu havia dito que mandaria as mulheres e crianças daqui para ficarem em nossa velha casa de inverno no norte. De fato, as enviei juntamente três homens de escolta e pedi que um deles retornasse para cá quando todos tivessem se estabelecido no local, a fim de saber se tudo transcorreu bem durante a viagem e estadia.

O problema é que na volta ele foi visto e seguido por alguns soldados, não sei exatamente de qual principado. Velius, que trazia as notícias que pedi, disse que foi capturado e interrogado pelos homens durante a noite no bosque. Mas de repente houve um tumulto, uma emboscada de outros soldados. Foi um verdadeiro caos, ele me contou.

Velius conseguiu sair do emaranhado de espadas e sangue e chegou até aqui. Nós tratamos de seus ferimentos e o deixamos descansar. Na manhã seguinte eu levantei mais cedo e ao abrir a porta que dá para o alpendre me deparei com um soldado estirado sobre o chão. Eu olhei em volta e não vi mais ninguém no horizonte, o homem estava ferido e ainda respirava.

Meus homens se prontificaram a matá-lo e esconder o corpo, a fim de que nenhum outro combatente nos encontrasse. Óbvio que não permiti. Tive que trazê-lo para dentro e tratar seus ferimentos. Não vou falar-lhe com detalhes sobre isso, pois lembro que você costuma ficar aflita. O demos de comer e beber, quando ele acordou, ainda pensava estar num alojamento de soldados.

Quando percebeu que não conhecia o ambiente e nos viu melhor, tentou sair da cama para nos atacar, mas os homens o seguraram no colchão. Tentei conversar com ele, mas não estava funcionando, então tivemos de amarrá-lo na cama. Ainda bem que você não estava aqui para ver isso.

Faz alguns dias que ele está aqui, parece bem recuperado, mas não posso deixá-lo sair. Se ele contar para outros onde estamos, não sei o que pode acontecer conosco. Na verdade eu posso imaginar e isso tira meu sono às vezes. Mas também não posso matá-lo, pois não foi isso que meu pai me ensinou. Deve haver outra forma de resolver esse dilema. Quando escrever para você novamente, espero já ter encontrado uma solução.

Com muitas saudades,

Seu amado, Ormano.

M Henrique
Enviado por M Henrique em 20/04/2024
Código do texto: T8045711
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