Pra precisar de mim

Mais uma vez você partiu

E levou de mim os sonhos que plantei.

Deixou meu coração, não sei bem por quê,

Mas sei que vou usá-lo ainda.

O que dizer de você?

Não sei de qual de você falar:

Se da briguenta, infantil,

Se da criança, irritada,

Ou daquela que insiste em me dizer

Que me ama e me quer,

Mas que não luta por isso,

Nem contra isso.

Que apenas me vê fazendo tudo

Para estar ao seu lado,

Na doce ilusão de que isso basta.

Não me perdoe por pensar assim.

Perdoe-me sim por não poder

Vê-la diferente,

Por “nunca entender nada”,

Pelos meus “porquês irritantes”,

Pelo meu “tchau morto” ao telefone,

Pelo meu gentil afago em seus cabelos,

Pelas massagens de outrora,

Pelos cuidados na madrugada,

Pelos carinhos e carícias,

Pela minha “falta de charme

Ou de tempero, gosto, sei lá”,

Pelo meu “choro que comove a todos”,

Pelo meu riso ingênuo também,

Pelos conselhos de amigo,

Pela atenção de toda hora,

Enfim, por ter sempre algo

Que a incomoda e irrita tanto.

O que que nos faz ser assim?

Outra vez acabou.

E você foi a primeira,

Que eu quis sim fosse a única,

Por amá-la tanto quanto amo.

Mas com qual de você falo agora?

Com aquela que acha

Que não vale a pena lutar por mim

Ou com a que tem certeza disso?

Seja qual for, desde o início sabia do fim.

Por isso, não me perdoe por partir.

Perdoe-me sim por não poder ficar,

Por não saber amar, talvez,

Mas por estar errado

Em tudo o que sonhei.

Por “pedir desculpas mais uma vez”,

Por “não pedir”, não dessa vez,

Por “só eu argumentar”,

Por “me defender”, e acredite, de mim,

Não de você,

E por ser sempre assim, “perfeito”.

Um perfeito idiota,

Um perfeito panaca,

Um perfeito tolo romântico

Que ainda agora

Espera vê-la rasgar o papel,

Dizer que estou errado

E que vai ficar comigo.

Um “covarde”, teimoso,

Que quis entrar na sua vida

E que agora sai

Como se ninguém tivesse visto entrar.

E não me perdoe por precisar de você.

Perdoe-me sim por não ser você

Pra precisar muito de mim.