Cavalo-marinho
Eu,
Que juntei tuas lágrimas e te dei de volta um oceano de alegrias;
Que deixei brilhar meu coração para que visses o caminho;
Que sonhei acordado em ser o príncipe dos teus encantos;
Que achei ter feito um Pégasus de desejos e pensei ter sido a tua liberdade;
Eu,
Que até então vencera todos os desafios que fiz questão de criar,
Já não me vejo, enfim, como era antes.
Percebo, agora, o que passou e o que fez mudar o rumo das marés.
Cego em minha própria visão, perdido no caminho que indiquei,
Te envolvi, aos poucos, num mar profundo e calmo.
Te ensinei a cavalgar comigo pelas terras de Netuno;
Construí castelos de corais e te levei a ouvir o coro dos golfinhos.
Senti que poderia ir a qualquer parte, mas não pude ser a parte que faltava
E que te fez voltar, sem mim, à superfície.
O mar que te envolveu te livrou da força que atrai à terra,
Mas não te deu o espaço, não te deixou voar.
Eu,
Que só tentei ser tudo o que não tive,
Hoje, não sou mais mar, nem coração, nem corais e castelos...
Não sou príncipe, nem encanto.
Acordado, ainda sonho, pelo menos, com teu sorriso e com teu olhar.
Sonhando, ainda me vejo cavalgando,
Não como Pégasus, mas só (,) como cavalo-marinho.