A gente era feliz e sabia.

 

Quando criança, nossos pais nos levavam aos circos, parques de diversão, festas populares de rua, (festas juninas), zoológicos, cinemas, praias, piqueniques, aniversários dos coleguinhas, onde respeitávamos a fila do Ki-Suco de groselha. Na escola, nas aulas de Ciências, aprendíamos sobre o corpo humano exatamente o que tinha para aprender, com ou sem os pudores característicos da idade e da vida de cada um. Quando íamos aos museus, assistíamos às exposições das descobertas científicas, objetos históricos da antiguidade, personalidades do passado, história antiga e moderna das civilizações, onde, aliás, haviam obras de arte como estátuas e pinturas de nus e eles sempre nos explicavam os motivos dos nus sem problema algum. Mas em tempo algum meus pais permitiram que participássemos de quaisquer eventos onde estivéssemos expostos ao desnecessário e muito menos tocar em corpos nus, seja lá de quem for para experimentar "novas sensações artísticas". Sentávamos à mesa e dividíamos o pão com satisfação. Assistíamos aos desenhos e filmes mais legais de todos os tempos, Os Batutinhas, O Elo Perdido, Ultraman, A Corrida Maluca, aliás, a Quadrilha de Morte não matava ninguém, o Dick Vigarista só se dava mal e o Muttley ria de tudo no final exigindo sua medalha. Quando nos envolvíamos numa “arte”, era assim que nossos pais se referiam às travessuras, muitas vezes apanhávamos, mas nem por isso alimentamos o ódio e a intolerância, nem nos outros, nem em nós mesmos. O que hoje se chama Bullying, era apenas uma “encarnação” que logo era substituída por outra coisa, outro assunto, outra invenção. Tínhamos nossos problemas, óbvio, mas que geração não os teve e ainda os tem? Enfrentamos os sete “Pecados Capitais” com as “Sete Virtudes”, a pobreza com trabalho e humor e a tristeza com Amor, pois quantas e tantas vezes "O preço do feijão não coube no Poema". Entoávamos, com alegria, o Hino Nacional e o Hino à Bandeira na escola com o peito juvenil. Ficávamos doentes e nos curávamos com remédios caseiros ou não. Nossos brinquedos, jogos e brincadeiras, quase sempre inventados e confeccionados por nós mesmos, eram a representação da alegria e da inocência e voltávamos para casa sujos, suados, exaustos e felizes. Descobríamos a sexualidade de maneira simples, natural e no tempo certo de cada um. Na adolescência, nossas trocas de olhares, pedidos de namoro, toques de mão, beijos, abraços, lágrimas, afagos, confidências e até mesmo as brigas tinham como pano de fundo a Amizade e o Amor.

 

MARCANTE, Alexandre.

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Alexandre Marcante
Enviado por Alexandre Marcante em 31/03/2023
Código do texto: T7753426
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