LUTO

Hoje o dia amanheceu um pouco cinzento, uma aparência que lembra a minha infância, a nebrina escondendo os rostos das pessoas era um encanto para mim, fazia questão de acordar bem cedo para apreciar tal cena. Porém, neste instante o que sinto é a tristeza de um dia escorrendo sobre mim. Minhas mãos tremulas e geladas mal conseguem equilibrar-se ao escrever esta carta, sinto meu pulsar intenso e doloroso, meus olhos perderam total capacidade de decifrar com clareza o que se passa ao meu redor. E eu me esforço para não submergir. Lembranças da noite anterior tentam torturar-me em cada flash de memória, as palavras ecoam como flecha no meu peito dilacerando minha estrutura, sem controle as lágrimas descem, mas não anestesia o sofrimento, instantes eternos invadem meu ser. É o luto me afirmando que mais uma vez eu perdi. Por dias não haverá sorrisos, animo e vontade de viver, todavia, é parte do processo e quanto antes aceitar maior será a possibilidade de me curar e seguir em frente. Somos passageiros na vida, peregrinos buscando a felicidade que se traduz em paz interior. Eu queria poder voltar atrás para encontrar quem foi embora e não posso, me conforto ao saber que enquanto estive lá (atrás) fiz o possível para demonstrar meus sentimentos, os destinos mudaram não por descuido ou falta de atenção. Isso basta.