RECORDAÇÃO

Ontem vaguei pelas ruas desertas da nossa pequena cidade. O frio penetrava em meu corpo como agulhas a espetar-me.O vento soprava de mansinho...Caminhei vagarosamente e observei cada detalhe da reformada praça, onde tantas vezes, namoramos!

O frio fez com que as pessoas se recolhessem mais cedo e fiquei a imaginar nós dois, uma lareira, vinho, queijo, aconchego amor. Mas ao invés disso lá estava eu, vestida de preto a vagar pela madrugada fria, parecendo uma alma penada a procura de luz. Você!

Meu corpo estava gélido, mas, não hesitei em visitar os nossos "recantos" e reviver na memória a nossa história, as juras de amor eterno, os beijos quentes,a ingenuidade de dois adolescentes, numa pequena cidade do interior.Saudades...

Estou só e na solidão em que atualmente me encontro, esse sentimento que sinto por você, antes adormecido, despertou fortemente, agora na madureza dos meus dias.

Voltei, mas sei que não vou poder estar contigo, nem uma única vez. Mas, ainda assim, quero que saiba que, o frio que ontem gelou o meu corpo, não gelou o meu coraçào.

As lágrimas correm agora pelo meu rosto e deixo que sigam livremente o seu curso.Eu o perdi, por medo,insegurança,orgulho, covardia.

Voltei para casa, o frio aumentou sensivelmente e uma garoa fina começou a cair me alertando para retornar.

Na minha velha sala de estar, tantos anos esquecida,o fogo na lareira crepita, olho o seu amarelado retrado, tomo uma taça de vinho. É dia escrevo esta carta, deito-me no tapete, na esperança de sonhar com você, meu amor de primavera!

Recordações...