Cansei de ser a tua saudade

A gente sabe tudo o que passou para chegarmos até aqui. Se eu me dedicasse, poderia escrever um romance dramático. Mas nós sabemos que não vale a pena, ou então não temos tempo. A vida seguiu em frente, e a gente acabou se afastando. Escolhemos outras saídas, outras pessoas, outras histórias. No final do dia, não é do meu lado que você deita e não é a tua mão que eu seguro. Mas você insiste em dizer que está com saudade. Confessa aos nossos amigos que sente minha falta, sempre tenta me ver. Do lado de cá, eu me lembro de você durante a semana. Quando ouço rock clássico, quando leio Sartre. No final das contas, a gente parece atado por um fio invisível que ninguém vê, mas sente. Todo mundo sente. Mas cansei de ser tua saudade, amor. Não posso mais viver assim.

Dizem que a dúvida mata, mas a certeza corrói com mais eficiência. Apesar dos pesares, a gente sabe que daria conta. Mesmo com as brigas, com os rompantes emocionais que fazem parte da nossa personalidade, e dos arranca rabos, nós daríamos conta. Toda admiração, amor, carinho e devoção que poderia se pensar em ter, nos temos. Toda amizade, saudade, tesão e apoio que poderia ser pensar em cultivar, nos mantemos. Em algum passo da caminhada nos rompemos e seguimos em frente. Novas pessoas surgiram, empreitadas bem sucedidas foram efetuadas, e tudo bem. Não vamos chorar sobre a dúvida. Mas a certeza… ah, essa certeza ela acaba comigo. Mexe com você também. Nós dominaríamos o mundo.

Isso me rouba o ar por alguns segundos. Me questiono se eu deveria conversar com você, saber da sua vida. Mas você também não aparece, amor. Nunca apareceu. Não sei se por respeito ou receio, mas não apareceu. Aos poucos, recobro a seriedade nessa questão. Em algum momento nós rompemos, e a vida seguiu em frente. Nossos corações não. Durante muito tempo fomos a saudade um do outro, aquele “e se” que arrebata a certeza e estremece o passado. Mas não posso mais fazer isso amor, não posso mais viver com a sua saudade. Não posso mais ser a sua saudade. Não que eu não te queira, não que eu não te ame. Eu sei que se houvesse um desvio, e houvesse você, eu escolheria você. Mas não há escolha amor. Se não há escolha, não posso aceitar também a saudade. Preciso acreditar que ainda haverá um depois. Depois.

Mariana Ravelli
Enviado por Mariana Ravelli em 16/08/2021
Código do texto: T7322301
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