Detalhes de amor no meio do caos

Os últimos meses tem sido complicados, então era esperado que perdéssemos nossa leveza e poesia. As demandas do dia a dia ficaram mais pesadas e a necessidade de reclusão iria acentuar nossas diferença. Embora eu amasse muito você, era claro que teríamos atritos. Eu sabia disso. Mas também sabia que isso nos fortaleceria. Mesmo que houvesse dias em que eu quisesse matar você, haveria outros em que eu teria certeza de que estou no caminho certo.

Começou com os post it perto da garrafa de café. Você sai primeiro, então prefere não me acordar, aí deixa recados para que eu fique informada. Eu demorei para perceber, mas isso mostrava o seu cuidado comigo. O respeito com meu sono, o cuidado em fazer meu café – mesmo que você não tome – e as ligações depois do almoço, quando meu humor já está melhor. A gente não malha junto, e você não faz perguntas sobre isso. Eu sempre te espero para assistirmos aquele anime juntos, e embora eu saiba que você já viu tudo, você finge surpresa a cada season finale ao meu lado. Faço uma receita nova para o jantar toda sexta-feira. Você sempre elogia. No domingo, você me compra frango assado e feijão tropeiro e eu te faço pudim. No sábado, a gente passa a tarde toda lendo, dormindo ou fazendo qualquer coisa individualmente. Ninguém se dói. A gente sabe a importância de cuidar de si próprio. De noite, a gente fica junto. A madrugada fica pequena pra nós.

A parte chata também acontece. Eu tropeço nos seus sapatos perto da porta, grito por conta da toalha molhada em cima do braço do sofá e a mania irritante que você tem de não tampar a pasta de dente no banheiro. Você reclama que eu deixo as luzes acessas e não como as bordas do pão. Ninguém nunca acha o controle quando precisa. A chave nunca fica no suporte, porque você sempre coloque em qualquer outro lugar. As máscaras se misturam. Já encontrei álcool em gel dentro do ropeiro. Você não tem um par de meia completo sequer e usa meu condicionador. Uso seus meiões de futebol para dormir e desisti de lavar as cortinas da sala que sua mãe nos deu, dá muito trabalho. A gente discute pelo o tipo de feijão que vai comprar, sempre: eu gosto do vermelho, você prefere o preto. Você não come arroz integral, então é só arroz branco. E eu odeio arroz branco.

Relacionamentos não são fáceis, é sempre uma construção diária, fora a necessidade de revisão. Não se pode perder a leveza, a poesia e nem o amor. Mesmo que eu queira te matar por andar no chão de meias. Ou que você queira me matar por usar seu creme de barbear para depilar a panturrilha. Fazer o que? Acontece. Isso são detalhes da nossa convivência, simbologias do nosso amor.

Mariana Ravelli
Enviado por Mariana Ravelli em 27/10/2020
Código do texto: T7097629
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