Olha eu aqui outra vez

Quem diria. Olha eu outra vez aqui. Depois de outra tempestade, depois de outra reviravolta. A vida por inúmeras vezes parece que vai acabar, mas não acaba. A corda parece que não vai aguentar outro baque, nossas mãos já parecem formigar de cansaço e os joelhos quase não se sustentam, mas a gente se mantém de pé. E eu nem sei como a gente acontece. Depois dos últimos acontecimentos, eu não me imaginava olhando pela janela, e respirando fundo. A tempestade que imperou por aqui, rugindo feito um vulcão em erupção me despertou sentimentos agoniantes e remexeu certezas em meu interior. Sinceramente, dessa vez achei que a corda arrebentaria. Dessa vez eu pensei que meus joelhos iriam ceder. Era hora de conhecer o chão. Mas não foi dessa vez.

A gente é mais forte do que pensa, e mais inteligente do que imagina. Se há um ano alguém me dissesse algo assim, eu teria rido. Com certeza, eu teria rido. A gente não espera a desgraça, mas precisa aprender a conviver com ela. A vida é cheia de altos e baixos, pergunte aos teus joelhos. Ele vão dizer como tem lidado com o peso de lhe sustentar. Ou pergunte a suas mãos, agarradas fielmente aquilo à que você acredita, que as vezes sangram de tanto fervor. O mundo insiste em dizer que somos fracos, nós mesmos repetimos isso para o reflexo do espelho. Se eu soubesse que depois da tempestade eu ainda estaria aqui, inteira, talvez eu não tivesse chorado tanto. Meu Deus, talvez eu não tivesse sofrido tanto.

O cansaço que abraça meu corpo me mostra que o caminho até aqui não foi fácil, quem me dera tivesse sido. As escolhas ficam mais difíceis a cada ano, e me pergunto se em algum momento nós vamos deixar de sentir o peso de sermos humanos e simplesmente viver. Mas viver não seria isso, no final das contas? Fazer escolhas, sustentá-las, carregá-las em nossos corpos e nossos ombros? Tanta coisa que aconteceu comigo que eu pensei que me levaria de mim. Tanta coisa que me foi tirada que eu pensei que me faria falta. E depois de tudo eu estou aqui, inteira, escrevendo com dedos assíduos sobre coisas que já foram, mas sensações que ficaram. Sobre pessoas que partiram, mas sentimentos que ainda habitam meu ser. Ninguém vai morrer por causa de um tempestade. Nem eu.

Quem dera eu soubesse disso há sete meses atrás. Quem dera eu conseguisse sentir a tranquilidade que sinto hoje, ao olhar da janela, e saber, que mesmo que venha outra tempestade, eu ainda estarei aqui depois que tudo acabar. Eu ainda serei eu. E isso nunca mais mudar.

Mariana Ravelli
Enviado por Mariana Ravelli em 18/10/2020
Código do texto: T7090455
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