CARTA ABERTA AOS GENERAIS

A quaisquer dos que dizem que não tomam providência porque o povo está passivo e não vai às ruas - solicito permissão para discordar.

O dentista não tirou o dente podre porque o paciente não pediu, o médico não ministrou a injeção que o salvaria porque o doente não pediu, o avião não decolou porque os passageiros não pediram, o guarda não multou porque o motorista não pediu, a galinha não botou o ovo porque o consumidor não pediu... General, as FFAA são forças intestinas de uma nação, assim como não controlamos os nossos intestinos, eles agem na hora certa, alguns médicos até o chamam de nosso segundo cérebro. Eles tem movimentos peristálticos dentro da necessidade do organismo e sem nos consultar. Imagine se toda hora nosso organismo tivesse que nos consultar, ficaríamos com os órgãos parados solicitando uma manifestação e comando de nosso cérebro. Os militares são os verdadeiros profissionais representantes do povo, oriundos de todas as classes sociais, religiões, credos, raças e tem o soldo pago por esse povo. E devem defender a pátria de inimigos externos e internos, que ameacem a paz, a ordem e o progresso. E são esclarecidos, coisa que o povo não é. Em relação ao povo o militar é uma classe privilegiada e mantida por esse povo, deveria portanto interferir em qualquer ameaça que esse povo sofresse. Ou o senhor não sabe que o povo, do qual o senhor e sua família também saíram e fazem parte, está sendo roubado, sacrificado a cada dia, sem saúde, educação, salário, estradas e dignidade. Por favor, levante da cadeira, perfile-se perante esse humilhado povo e escolha para qual lado dará seu passos: para a defesa dele ou de seus algozes, os milionários políticos, aproveitadores que estão também a lhe manipular e usá-lo como capacho...

E não diga que deve obediência cega ao seu comandante in chefe que é o presidente. Se o seu chefe lhe dá uma ordem insana, pelo regulamento militar o senhor não é obrigado a cumprir. E, conforme a insanidade o senhor deve é dar-lhe voz de prisão. Estamos a ser comandados por quadrilhas e seus chefes são os seus chefes? Aqui pra nós, general, está na hora de mostrar o seu brio de soldado e de patriotismo. Jurou à bandeira? Mostre que não ficou só na fala, que o seu coração ainda palpita por ela.

Lembre-se que talvez você não sinta na pele o que o povo está sentindo por receber desse próprio e sacrificado povo o seu salário, e os pelegos cuidam para que você receba em dia para tê-lo a seus pés, como capacho mesmo. Por favor, general...

Armand de Saint Igarapery - Textos no Face e no Recanto das LetrasLetras