...diário
Como é sair de casa em dia de chuva , abrir os braços para o céu , senti-la tocar a pele, reconciliando-nos com tudo que há de bom?
Diga-me: Como é à noite, temer apenas o monstro que vive embaixo da cama?
Responda-me! Como é acompanhar o crescimento e a construção de prédios na vizinhança?
Como é ouvir um aviso sonoro, muitos gritos de criança, e então correr para a rua para ver se é o carro do sorvete que está chegando?
Como é sonhar em quando ficar adulto, em fazer faculdade, ter uma profissão, casar e ter filhos?
Tempos atrás ouvi a história da menina que não podia sair de casa e tinha medo do céu, pois tudo que dele vinha trazia a dor.
Convivia com a perda, a morte, o sofrimento. Nos olhos de quem deveria te proteger, havia o medo que já reinava em tudo.
Sua cidade diminui com o passar dos dias. Todo dia em um novo estrondo bem próximo, mais um prédio vem abaixo, e mais um quarteirão deixa de existir.
Quando o estridente aviso sonoro ecoa, deve procurar abrigo. Às vezes não se tem onde, e às vezes o aviso não vem.
Seus sonhos têm a duração de um piscar de olhos. Em sua face existem olheiras enormes, pois embora deite à noite, não consegue repousar. Deseja muito que essa situação se finde, mesmo que pra isso durma o derradeiro sono.