Quando chove lá fora

Todos os dias ao acordar ainda pego o celular esperando sua mensagem de bom dia, mas com o tempo a falta dela foi se tornando cada vez mais comum e menos decepcionante, mesmo assim é impossível não lembrar que a situação era diferente há quase um ano.

Hoje por exemplo, acordei com o barulho da chuva na janela e no fone de ouvido tocava uma música clássica no piano.

Afundei a cabeça no travesseiro tentando esquecer aquilo que o dia estava insistindo em me lembrar. Sempre gostei de dias chuvosos e agora mais do que nunca eles me lembravam você, lembravam-me da nossa última conversa naquela sorveteria, naquele dia em que apesar de rirmos muito você evitava me olhar diretamente nos olhos, a chuva caia lá fora era tão forte que era um empecilho para irmos embora, tornando inevitável aquela nossa longa conversa. Aquele dia, estávamos comemorando o sucesso no seu primeiro caso como advogado, mas com toda certeza meu sorriso era muito maior por estar ali com você tomando sorvete e te ver sorrir que pelo caso no qual gentilmente me permitiu acompanhar de perto me preparando para minhas provas e trabalhos futuros, eu sorria tanto que minhas bochechas chegavam a doer. Trocamos gentilezas e no final falamos sobre as alegrias, tristezas e decepções de toda uma vida amorosa, foi aí que pela primeira vez naquela tarde você firmou o olhar no meu e disse com uma voz séria inclinando a cabeça para o lado como se procurasse uma forma doce de dizer algo muito duro: ... "Não me vejo entrando em um relacionamento, não sou mais capaz de gostar de alguém."

Nesse momento tive a certeza que você percebeu que era o motivo dos meus sorrisos, que era a última pessoa em quem eu pensava antes de enviar uma mensagem de boa noite e essa atitude foi uma forma de dizer que eu deveria aprender a silenciar meus sentimentos.

Eu sabia que você estava ferido e você também sabia que eu tinha um coração estilhaçado, mas tudo que eu queria era lhe estender a mão te tirando do buraco emocional em que estava, minha intenção sempre foi ser porto seguro jamais de acorrentar a tua alma.

Mas eu não segui seu sutil conselho e cada dia eu estava mais disposta a oferecer um bálsamo para tuas feridas, cada dia mais perto, mais preocupada e com mais vontade de te fazer sorrir, mas ainda assim, você preferiu cultivar seu rancor, se afastou, fechou-se em um mundo só seu, foi me afastando, até o dia que eu soube que você havia retomado aquele relacionamento conturbado, a mesma pessoa, os mesmos erros e mais uma vez não deu certo é dessa vez as feridas eram ainda maiores e novamente eu tentei, tentei mesmo cuidar das tuas cicatrizes, mas elas doíam tanto que você não me deixou chegar perto.

Hoje eu sei que você sofre que seus dias são mais tempestuosos que a chuva que caia lá fora naquela tarde em que conversamos, mas você ainda não me permite abrir um guarda-chuva.

Mas saiba que estou aqui esperando para te arrastar para um lugar seguro.

Certa vez, ouvi que a gente aceita o amor que acha que merece (Pena você acreditar que merece tão pouco).

Megami Lua
Enviado por Megami Lua em 11/07/2017
Reeditado em 11/07/2017
Código do texto: T6051987
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