DESABAFO AO INFINITO

Sou um homem formado, com 33 anos de idade, pai de família e mantenedor do lar. Sou microempresário, e trabalho por conta a mais de 10 anos, sempre com brilho nos olhos em vislumbrar um futuro promissor, sempre com grandes projetos inovadores no mercado, com a venda dos mesmos abaixo de todos os valores, mas mesmo assim enfrento altas baixas nas vendas dos serviços e produtos, brigo no mercado de igual pra igual com grandes empresas, sempre trabalhando sozinho.

Em minha empresa eu sou o vendedor, o financeiro, a administração, o marketing, o telefonista, a secretária, o produtor e até mesmo o faxineiro. Tudo de forma limitada pelo único e simples motivo de falta pertinente de capital e recursos financeiros.

Hoje tenho um custo mensal de manutenção de minha casa e empresa que geram em torno dos três mil reais por mês. Conto com a ajuda no valor de quinhentos reais, que vem da minha sogra que reside comigo, os outros dois mil e quinhentos reais saem dos trabalhos que exerço.

Por muitos anos lutei com todas as forças para conseguir com meus serviços criar uma renda fixa e estável, após muito tempo tive 90% de êxito nessa luta, pois na atual situação a empresa gera 2.727,90 de rendimento fixo por mês. O que de fato mantém as necessidades de nossa casa. Mas infelizmente não venci a luta por completo, pois os valores mensais são divididos em uma grande gama de clientes, tendo os de mensalidades mais altas o patamar de 530,00 e os mais baixos de 30,00, isso teoricamente não é um problema, pois tomei todo o cuidado do mundo em colocar os seus vencimentos com datas antecedentes ao vencimento de minhas contas. Sendo que durante muitos meses sofri com clientes que tem alto nível financeiro na sociedade, que mesmo ostentando de diversas formas, sempre atrasavam as mensalidades, foi onde de uma súbita necessidade de receber em dia, fui forçado a me render a instituição bancária para a emissão de boletos registrados, assim apesar de perder alguns valores em tarifas bancárias, os clientes passariam a pagar em dia, e caso houvesse o atraso os mesmos seriam forçados a pagar dentro dos próximos 3 dias, pois os boletos seriam protestados.

No primeiro mês tive só alegrias, todos os clientes efetuaram os pagamentos, com algum atraso, mas nada que prejudica-se o pagamento de minhas contas. Feliz da vida olhei para os céus e gritei, “VENCI”, e comecei a fazer planos.

Em certa semana de um respectivo mês, luzes iluminaram o meu caminho, um cliente de minha empresa, cujo tínhamos grandes afinidades, me chamou para uma reunião, pois o mesmo tinha uma proposta, saindo de tal reunião havia ficado acertado que juntos iríamos abrir uma nova empresa dentro do segmento que a minha já atuava, que deveria ser de forma rápida, pois ele teria um valor considerável em dinheiro para investir, e eu entraria com a experiência e o trabalho. Um dia após, um amigo me chamou para uma reunião, onde resolveu me passar quase todos seus clientes, assim meu capital triplicaria nas próximas semanas e meses.

Chorei de emoção, com todas as novidades que me cercavam, me atolei em serviços, corri atrás de tudo necessário. E de repente, tudo parou de andar. Nada mais saiu das promessas. Nada mais se passava de idéias de crescimento.

Em ajuda a toda alta, entrou a semana de recebíveis, e de forma rápida emiti boletos para todos os clientes, crente de que nada daria errado, assim como o mês passado. Pois é, dessa vez não aconteceu. De todos os cliente só recebi de 2, e de um terceiro em mãos. Aí vem o desespero. Meu Senhorio cobrando meu aluguel, e eu sem perspectiva de pagar, minhas contas se acumulando e o desespero crescendo.

Vi como um refúgio escrever este texto, assim como um desabafo, para apresentar toda minha grande indignação com a situação de um cidadão desse país. Onde se tenta viver de forma honesta, trabalhando arduamente, trabalhando formalmente e saindo da informalidade e temos um simples resumo:

Altos custos para sobreviver;

Altos impostos a se pagar;

Mercado desleal para exercer;

Pessoas ricas cagando e andando para suas necessidades, que te pagam quando acham que devem pagar;

Tristeza, desespero, portas fechadas, e nenhum apoio.

Que país é esse, que tempo é esse. Onde trabalhamos muito para pouco ganhar, e assim mesmo quando ganhamos.

Que país é esse que deixa seus filhos de solo, em mãos da sorte, ou até mesmo da mediocridade.

Que país é esse de um povo heróico e um brado silencioso.

Que país é esse de um penhor de desigualdade, nada conquistamos com trabalho forte.

Que país é esse gigante apenas pela natureza, és belo, és fraco, medroso , e o teu futuro espelha essa pobreza.

Muito me assusta o hino de nossa pátria, que parece nunca ter sido escrito para nós, e sim para o que sonhamos em ser e ter pela eternidade.

Fica aqui minha grande e imensa tristeza.