Carta aberta à um dos amores da minha vida

EU DISCORDO! O juiz replica: não existe discordar no meu tribunal! EU PROTESTO. E sob que alegação? Questionou-me o homem de toga. Eu protesto.. talvez por ver o mundo de cabeça para baixo, talvez por não me contentar com o que me é posto, talvez por problematizar demais, talvez por ser somente eu mesma em demasia, EU PROTESTO. Frente a todo esse tribunal composto por juri e juízes que nada mais fazem senão julgar e pelo amor verdadeiro que já senti, eu, Aline do Amaral, desaprovo o significado que vocês impuseram ao amor!

O juri enfurecido urra: *Hey judge! Shit on her!*

E o juiz a arrebentar o martelo sobre a mesa, decreta: *I sentence you to be exposed before your peers. TEAR DOWN THE WALL!*

Foi assim, meu amor, que eu vim parar onde estou. A cara lavada e a alma aberta. Com meus sentimentos expostos. Quem quer que seja pode ver o amor que transborda de mim, eu já não posso mais esconde-lo desde a sentença por ter sido pega em *flagrante mostrando sentimentos.* Fui exposta ao máximo do ridículo perante a essa sociedade. E esse é o preço que eu pago por ter conhecido você.

A vida toda eu aprendi sobre o amor de acordo com as aprovações do juri e junto a esse juiz urrei por sentenças cruéis à aqueles que discordavam. Isso perdurou até o dia em que conheci você e algumas pessoas mais. E hoje, o dia em que fui julgada, talvez ainda não saibas, mas aqui vim parar também por razão sua.

Me diziam, e eu acreditava, que o amor da vida de alguém aparece só uma vez, vem em forma de beijo primeiro, depois sexo, e por fim, casamento. Ensinaram-me também que ao aparecer você tem que agarra-lo, não solta-lo de modo algum e principalmete não cantarolar a alegria muito alto, pois a inveja tem sono leve e geralmente rouba o amor de quem o versejar. Eu acreditei e por diversas vezes pensei ter conhecido o amor da minha vida. Eu então primeiro beijava, segurava firme a pessoa, fechava o coração e implorava a ela para ficar ao meu lado, somente ao meu lado.

Entre abraços e carícias,

Iniciavam-se discussões

Que aparentemente não haviam um porque,

O coração apertava,

O sufoco estrangulava,

E no fim.. tudo se acabava.

Amor da minha vida?

Eu não entendia porque

Tudo isso, a cada fim

Soava cada vez mais com apenas uma mentira.

Eis que surge você.. sorrindo na rodoviária a me esperar. A me esperar? Mentira! E essa nossa história eu me recuso a romantizar. Eis que eu chego na rodoviária cansada e não te encontro pois tu estavas atrasada. Aqui fica a 1ª lição que me ensinastes sobre o amor: ele não respeita horários, pois nem todo ser humano é pontual e bonito mesmo é ser humano.

Eis que surge você.. linda, tímida, charmosa e ainda por cima cheirosa. Não havia como ser melhor, mas por não sentir vontade de seguir a ordem pré-estabelecida pelo juri e juiz de beijo primeiro, depois sexo, e por fim, casamento, acreditei que ou havia algo a ser consertado ou que não eras de vera o amor da minha vida. Aqui fica a 2ª lição que me ensinastes sobre o amor: ele não tem forma e não existe como pré-estabelece-lo.

Eis que surge você.. sentimental. Eu vi tuas lágrimas caírem por ouvir um poema sobre a saudade, eu te segurei no colo quando você acreditou não ter mais para onde ir por ter deixado alguém para trás. Te ofereci meu abraço, meu carinho, meu afago, sem sentir ciúmes por outras pessoas também oferecerem. Aqui fica a 3ª lição que me ensinastes sobre o amor: nele não sentimos ciúmes.

Eis que surge você.. inteligente e engraçada. Por horas conversamos e de assunto em assunto, teorias formamos. Aparentemente tão imbecis que por horas juntas nós rimos. Ao parar pra recordar não lembro em que ponto acabamos com a bad e começamos com o riso. Aqui fica a 4ª lição que me ensinastes sobre o amor: ele é leve e se o sentes, quando menos se espera o abraço de apoio se torna um carinho de bem-estar mútuo.

Eis que desaparece você.. furona (rs) e sumida. Por dias ou até mesmo meses, por vezes resolves desaparecer. Mas apesar da saudade, eu me sinto em paz e meu amor por ti só aumenta. Aqui fica a 5ª lição que me ensinastes sobre o amor: ele dança em perfeita harmonia com a liberdade. Podes ir onde desejar, eu sei que um dia vais voltar e ainda me ensinar algumas lições mais.

Eis que surge você.. me ajudando a ser poética. Refletindo sobre Clarice Lispector nos perguntamos “E se eu realmente fosse eu?”. Aqui fica a 6ª lição que me ensinastes sobre o amor, mas que na verdade foi a que primeiro me fez notar que eu já haviam passado tantas outras despercebidas. “E se eu fosse eu?”, pois bem, te confesso que por vezes na tua presença vejo meu intimo mais profundo revelado de forma tão leve e doce que mesmo que só por alguns segundos, eu sou realmente eu. Essa talvez seja a 6ª lição que me ensinastes e de cunho tão profundo que não há como explicar. Só o que eu posso dizer é que desvendamos o amor ao passo que desvendamos o eu sublime que mora escondido em algum canto da nossa alma. Você desperta uma parte do meu.

Aos leitores desta carta aberta quero deixar mais uma lição, mas sem numera-la, pois esta existe apenas para esclarecer que ainda ei de descobrir outras milhares de lições que há para se aprender com o amor.

E à você, meu bem, eu digo, não sinta-se mal pelo inicio da carta. Por sua causa eu fui sim exposta ao máximo do ridículo. Mas o que é o belo para essa sociedade composta de pessoas em posição de juri e juiz que todo o tempo com olhos tortos nos perseguem? Essa carta é o máximo do ridículo para quem nada ainda aprendeu sobre o amor. Eu abraço essa minha sentença, escrevo esta carta aberta e repito EU PROTESTO! EU PROTESTO E ACREDITO! Acredito que meu julgamento vai clarear mentes e algum dia meus escritos irão revolucionar corações. E então, quem sabe, o amor aos olhos da sociedade passe a ser tão belo, leve e livre quanto o amor que eu sinto quando olho nos olhos teus.

À uma das melhores amigas que o mundo me presenteou.

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OBS: As frases entre asteriscos (*) fazem alusão à música The Trial - Pink Floyd.

Aline do Amaral
Enviado por Aline do Amaral em 07/04/2017
Reeditado em 12/04/2017
Código do texto: T5964250
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