Uma carta para o amor que ainda vai chegar

(Tenho em mim esperança e angústia)

Querido futuro amor,

Bem, não sei como me expressar. Eu estou tão machucado do meu último amor. Chorei muito e bebi um pouco a mais para afogar as lembranças. Tenho esse problema: amo com intensidade e profundeza, mesmo quando o outro não me proporciona essa profundidade. Eu sempre mergulho em amores rasos e acabo com uma enorme dor de cabeça. Enfim...

Hoje eu sou apenas um, ou menos de um, pois em cada amor, eu me deixo um pouco. Desculpe se me apresento a você em apenas fragmentos. Me sinto estranho e desajustado. Um pouco sem rumo, mais estou me recompondo. Não sei se você pensa assim, mas tudo parece tão frágil, absurdamente volúvel, ou sou apenas eu mesmo.

Vou te contar uma coisa que talvez você ache inusitado, para não dizer estranho. Mas, em algumas ocasiões eu me sinto um completo idiota, que escreve cartas para ninguém, apenas para relatar as vivências e decepções. É como se fosse um diário, porém, eu me sinto mais confortável em escrever cartas para alguém, que na verdade não é ninguém, do que escrever somente para mim mesmo. Eu tenho uma caixa repleta de cartas, algumas bem antigas, outras nem tanto. Ao lê-as, sinto o tempo rir de mim, com um riso estranho.

Sabe, eu acredito que você virá e seremos felizes. Contudo, a espera não é fácil. É como esperar o último trem. Sei que estou um pouco velho para isso, mas eu luto para manter a fé no amor. Eu já sofri muito por amor e já sorri muito por ele. Não é fácil amar, mas pior seria não ter esse privilégio.

O que me consola é saber que você também tem sentimentos parecidos. Somos iguais em vivências e decepções. Você perambulou carregando suas esperanças em ruas escuras de desamor e nos becos sem saída da desilusão. Por isso nos encontramos. Você foi ferida e aprendeu a curar seus ferimentos. Suas cicatrizes são um charme para mim, porque, assim, também posso mostrar as minhas, sem inibição. Assim como eu, você também quis desistir do amor, mas viu que seria como deixar de existir. Você guarda seu amor, como aquela pequena chama para se aquecer do frio desse mundo louco e raso.

É, meu futuro amor, ficamos assim, olhando um para outro, tentando atravessar a linha tênue entre a angústia louca da espera e a esperança de que o amor irá aparecer para acender a nossa fogueira, que hoje são apenas cinzas das cicatrizes deixadas. O amor nos inundará e fará valer toda a espera.

P.S.: Nessa madrugada fria em que te escrevo essa carta, você prefere café ou chocolate quente?

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 05/03/2017
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