QUANDO ESBARREI COM MEU EX-AMOR NA RUA

É engraçado como a vida nos surpreende. Quando finalmente achamos que esquecemos uma pessoa, alguma coisa acontece e ela aparece. Seja num lugar incomum, uma foto ou uma música, algo sempre nos faz lembrar.

A verdade é que nunca esquecemos um alguém; apenas o ignoramos ao longo do tempo. Eles ficam ali, em um cantinho escuro, escondido dentro do coração. E, quando menos esperamos, o reencontramos. Aquele serzinho, enterrado dentro de nós, pula para fora do vazio gritando: "Ei, estou aqui!", trazendo de volta aquele frio no peito que, agora, não é tão bom sentir.

Quando esbarrei com meu ex-amor na rua, ele era a última pessoa que esperava encontrar. Não que eu tivesse algum ressentimento guardado ou algo do tipo. Mas era porque eu pensava que já o tinha esquecido. E, para a minha surpresa, tanto eu quanto ele, agimos de formas diferentes do que estávamos habituados tempos atrás. Não houve troca de olhares, não houve pausa em nossos passos, nem uma excitação em dizer: "Oi, quanto tempo!". Nos comportamos como dois desconhecidos, virando os rostos e seguindo caminhos opostos. Até pensei — em uma fração de segundos — em olhar para trás e confirmar que era ele mesmo, no entanto eu fui uma medrosa e o evitei. Abaixei a cabeça e me refugiei dentro de uma loja.

Como isso? Sentir medo? Como tive medo de encarar uma pessoa, pela qual já me declarei apaixonada antes?

Mas foi assim. E, dentro da loja, num lugar seguro, pude, enfim, confirmar meu susto: era ele.

Pelo vidro da vitrine o vi indo embora. Mas não era bem a pessoa que gritou dentro de mim. Estava diferente. Mais magro. Mais saudável. Mais bonito... E, por uma outra fração de segundos, o vi com uma expressão séria, talvez de raiva.

Raiva? De mim? Será?

Nunca entendi o porquê das pessoas ficarem estranhas umas com as outras depois do término. Pessoas que se amaram um dia. Pessoas que se faziam felizes. E é claro que aquela enxurrada de lembranças boas me invadiram. Do primeiro encontro ao primeiro beijo. Dos primeiros abraços aos muitos risos. E tudo aquilo, que antes me fazia bem, naquele momento, dentro da loja, me fazia mal.

Pensei: "Por que terminamos mesmo?". Depois dessa pergunta, mais uma nova enxurrada. Essa, de lembranças ruins. Das brigas, das discussões. E do momento que, não tenho certeza, mas acho que foi o momento do fim, a frase: "É melhor pararmos e seguirmos nossas vidas". Lembro que foi ele quem disse.

Mas isso não me importava mais. Foram momentos que passaram e se guardaram. E como a nossa vida é feita de lembranças, foi bom ter recordado essas. E ver como estávamos mudados depois desse todo tempo todo. Respirei fundo e saí da loja, e, de novo, evitei olhar para trás, já ali, por coragem. Coragem e cabeça erguida. Eu sabia por que tínhamos terminado. E sabia por que não paramos para conversar: não era o momento. E como ele tinha me pedido antes, eu segui em frente. E tenho certeza que ele também. Talvez ainda esteja com o seu novo amor, aquele que deduzi ser ao vê-lo no último encontro não planejado por uma foto de uma rede social. Fazia tempo que não o via sorrir assim, como sorria ao lado daquela garota baixinha, com um copo de bebida na mão meses atrás. Talvez fosse ela tudo aquilo que eu não fui. Como outro foi para mim quando ele partiu.

"Não era para ser", é o que dizem. E acho que faz sentido.

Continuei meu caminho até me esquecer desse pequeno encontro e tendo a certeza que continuará esquecido por um bom tempo.

Até o próximo esbarro.

Ias Guinossi
Enviado por Ias Guinossi em 29/12/2016
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