Mas o Céu é egoísta...
O verde belo e brilhante da grama contrasta com as lágrimas que caem de um céu cinza. Céu que não parecia ser o limite para o magnífico sonho de um grupo de amigos que escrevia uma história espetacular e inspiradora. História? Não. Epopéia. E daquelas de arrepiar e parecer um sonho do qual ninguém quer acordar.
Mas o céu é egoísta. Muitas vezes pega algumas das nossas melhores estrelas para brilhar ainda mais.
E às vezes, de um sonho belíssimo, vamos para um pesadelo do qual sonhamos em acordar.
O maior campeão da Libertadores. Quatro defesas de pênalti. Um dilúvio sem precedentes. Uma atuação mágica. O time do papa. Uma defesa divina no último lance. O melhor time da América em 2016 no caminho de uma final épica e inédita.
Os graves problemas financeiros de três anos atrás que quase impediram uma história inimaginável. Agora, um exemplo para um futebol que sofre com a desorganização, as dívidas, as organizações marcadas pela corrupção, a base da pirâmide e os milhões de profissionais entregues aos que não merecem nem têm condições de melhorar algo. Um clube sem dívidas, responsável, que não gasta mais do que arrecada e vai pagar até 14º salário aos seus funcionários.
Um time pequeno, com uma torcida apaixonada. Uma sinergia encantadora, principalmente nas noites épicas de setembro, outubro e novembro.
Pequeno? Gigante!
Da Série D para a C. Da C para a B. Da B para a elite. Da elite para encantar o continente. O mundo.
Os sonhos podem ser realizados. O Leicester conseguiu. A Chapecoense conseguirá.
O sonho virou pesadelo, mas a Chape conseguiu. Nos contagiou. Nos empolgou. Nos encantou. Nos emocionou. Nos uniu. Nos mostrou que o inacreditável é possível.
Clubes rivais. Todos nos abraçamos. Todos choramos. Todos somos e queremos ser Chape.
Ao invés da taça erguida, o último capítulo da epopeia é o vôo ao céu, que quis algumas de suas melhores estrelas para si.
Que as famílias e os amigos não só dos jogadores, da comissão técnica, dos funcionários e dos dirigentes da Chapecoense, mas também dos colegas da imprensa e outros que estavam no avião tenham força, conforto e se sintam abraçados por todos nós. Conhecia alguns companheiros e já tinha conversado com atletas e membros da Chape. Ainda não acredito no que aconteceu nem consigo explicar o tamanho da tristeza que sinto. Não consigo imaginar a dor que os familiares e amigos das vítimas estão sentindo.
Queria apenas acordar desse pesadelo.
GABRIEL PAZINI.
GOAL