Para uma tatuagem

Às vezes eu procuro você. Só de vez em quando mesmo, uma espécie de espionagem temporária, periódica, sabe, só pra saber como está sua vida, a gente tem todos esses meios de comunicação boy e eu ainda escrevo assim, mesmo parecendo que décadas se passaram. Também décadas passaram desde que a gente se viu, não lembro de muita coisa, minha cabeça continua a mesma e por isso parece que passaram décadas. Mas então eu estava olhando seu pout porri de fotos e vi você cobrindo nossa tatuagem com outro desenho x, não dava pra ver direito o que era. Não tenho certeza na verdade, nem lembro onde ficava a tatuagem, não, tenho certeza sim que você estava cobrindo a nossa, afinal teria outro motivo para mudar uma tatuagem do tamanho de um telão se você não fosse pra cobrir aquelas três letrinhas que escrevemos juntos? Olhei para a minha perna. Tinha esquecido totalmente dessa tatuagem. Três letrinhas que podem muito bem significar qualquer coisa. Três letrinhas que mesmo que eu apagasse ou mesmo que eu cobrisse não ia importar, sempre que eu virasse minha perna e olhasse naquela região eu ia saber de um pedaço da nossa história. Mas ta, entendo, a sua dava pra ver mais, provavelmente você contou pra sua namorada e tudo precisa de um fim pro começo, acho que ainda as coisas funcionam assim. A história terminava por aqui, até porque não consigo sentir mais nada sobre o assunto, e então eu vi uma meia dúzias de fotos da parte certa, que eu acho não tenho certeza, do pedaço da sua perna onde havia a tatuagem, agora coberta, e quando digo isso, a foto, só essa parte da perna mesmo e só mesmo, num fundo de metrô ou transporte assim. Ri internamente, porque mesmo que não fosse intencionalmente uma mensagem pra mim, naquela hora eu achei que era e isso não tem sentido pois eu não sinto mais nada boy, nadinha, não é confuso?

Marina Mood
Enviado por Marina Mood em 17/10/2016
Código do texto: T5794056
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