Abstinência

Textos são polivalentes – mesmo os mais covardes. Palavras exercem diferentes funções – quase nunca constantes. Autores redigem suas histórias – nem sempre sobre o passado.

Hão de entender os que tiverem paixão pela escrita e desgosto pela inexpressão. Todo escritor sabe seu ritmo, e o meu não se resume a um conjunto de caracteres divulgados de mês em mês. Caneta e papel, por favor. Vinte e dois dias ao léu desembocarão numa síntese do que falhei em dizer.

Vejo a vida como um emaranhado de micro amores, abatidos um a um pelo tempo ou pela indiferença. Os que não morrem, crescem. Os que crescem, nos transformam. Ah, o nosso amor! Passou invisível pela mira do relógio e se alimentou despercebido pelos campos do desinteresse. Cresceu, afinal. Tá grande, tá enorme! Não abate não.

Insisto daqui e você insiste daí. Se digo que o óbvio precisa ser dito, tá aqui minha parte: eu quero. Diga alguma coisa, porque estou desistindo de você. Juro que não abato, mas a indiferença é cruel. Corra e diga alguma coisa, qualquer coisa.

Textos são covardes – mesmo os mais polivalentes. Palavras são constantes – sempre servem a sua função. Autores redigem sobre o passado – mesmo que nem haja mais história.