Amor, nasci assim

A vendedora de joias, o motorista de táxi, o garçom do restaurante no final da rua e o resto do mundo já parece ter notado. Eu nasci assim, com aptidão para o amor e boa aventurança para os jogos. Permita-me ressaltar que nunca ganhei no pôquer e tampouco no pife. Não importa. Os jogos nos quais me dou bem são aqueles com minuciosas e duradouras partidas, decididas pelo toque e pelo diálogo – ou a ausência desses.

Dediquei-me a arte da conquista, e fico contente em poder aplicá-la em você. Tenho conhecimento das nossas divergências ideológicas e da sua incontrolável vontade de socar o meu rosto. Estou ciente da cor dos seus olhos, e pode ter certeza que mapeei com perfeição o caminho que eles percorrem dos meus cabelos pretos até os meus dentes brancos, nos dias em que sorrio para você.

Nasci assim, com uma confiança astronômica e uma cara de pau que assusta os desavisados. Nunca fui de escrever, mas me disseram que você curtiria se respondesse ao seu texto. Para o seu conhecimento: aquilo nos meus olhos não era faísca, era fogo – e enganam-se os que dizem que azul é a cor mais quente.

Meus abraços são sempre bons, mas os que reservo para você são os melhores. Fico chateado por você ainda insistir com essa mania de me estapear no meio da rua, se bem que fica linda com aquela falsa cara de brava. Nesses momentos e em todos os outros, seremos amigos – embora eu espere que não apenas isso.

Criamos um relacionamento que excita. Vivemos um dia a dia que confunde. Jogamos um jogo em que eu esperava uma vitória mais fácil. Você é durona, mas esqueceu da regra básica. Dê uma olhadela no meu Facebook. Verá que estou solteiro – aquela menina do seu texto é justamente com quem só quero amizade.

Costumava ouvir que quando um não quer, dois não brigam. E quando os dois querem? Será que eles se pegam?

Fui à joalheria e comprei um presente. Voltei de táxi. Colecionei apoiadores pelo caminho. Hoje vamos juntos ao restaurante, onde teremos uma mesa especial reservada pelo garçom. Se eu disser que estou apaixonado, cê aceita meu coração num cordão?