Eu quero a mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa, não aquela com dorso frio que é um campo de lírios, tão pouco aquela que tem sete cores nos seus cabelos e sete esperanças na boca fresca como Vinícius de Moraes descrevera.

Eu quero aquela que faça-me perceber a sua presença com os olhos da alma e com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos.

Não vos direi que sua beleza é presente de grego e não será bem vinda, pois nenhum cidadão em sã consciência, deseja outrem que não faça seus olhos cintilarem, entretanto sua inteligência e atributos além dos notáveis com simples olhares, devem corroborar ao que simples vistas humanas são capazes de apreciar.

A mulher que tanto desejo, tem de me trazer, antes de mais nada, segurança e calmaria.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa, como és linda mulher que passas, me sacias e suplicias, dentro das noites e dos dias, mais do que isso, tornou-se eternamente por aquilo que me cativaste, mas insisto, tens de fazê-lo além de teus atributos físicos, pois os mesmos me são vagos e insuficientes se não existir algo a ratificá-los.

Teus sentimentos são poesia, teus sofrimentos, melancolia, teus pelos leves são relva boa, fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos longe das vozes da ventania, meu Deus eu quero a mulher que passa. Quero tanto a ponto de não dimensionar o que ela significa ou poderá significar, mas assumo todas as consequências e não me importa quão difícil seja conquistá-la ou quanto tempo irá levar, terei paciência e persistirei até o limite das minhas forças mesmo que chegue ao ponto da extrema persistência ou teimosia.

Fico a imaginar o que faz ela agora, se estou idealizando-a demais ou se é fruto de devaneios. Talvez seja apenas insensatez da minha parte imaginar tamanha perfeição nesse mundo repleto de imperfeições.

São exigências demais da minha parte?

És obra de arte

ou da literatura?

Não importa, jamais avistei no mundo tamanha doçura.

Saibas que estou pronto a entregar-me a você de corpo e alma, onde quer que você esteja nesse momento, ficarmos juntos, não me fará completo, pois já sou sozinho, logo, não é necessário me completar, mas me transbordar.

Como te adoro, mulher que passas

Que vens e passas, que me sacias

Dentro das noites, dentro dos dias!

Por que me faltas, se te procuro?

Por que me odeias quando te juro

Que te perdia se me encontravas

E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?

Por que não enches a minha vida?

Por que não voltas, mulher querida

Sempre perdida, nunca encontrada?

Por que não voltas à minha vida?

Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Eu quero-a agora, sem mais demora

A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio

Do teu martírio que nunca cessa

Meu Deus, eu quero, quero depressa

A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica

Que é tanto pura como devassa

Que boia leve como a cortiça

E tem raízes como a fumaça.

Encanta-me,

Aliás este fato já foi feito

e agora pobre do sujeito,

que sofre da vida os dissabores,

não por falta de amores,

mas por amar demais,

uma única mulher.

Meu Deus do céu ...

Eu quero a mulher que passa,

como eu a amo.

Ela não é capaz de imaginar

e tão pouco eu de explicar,

por isso,

eu lhe peço, imploro, suplico.

Ajudai-me provar deste mel.

De todas as outras abdico,

renuncio,

faço o que precisar.

pois nesses versos pronuncio:

Eu quero a mulher que passa,

mulher que passa, nasci para te amar.

Gui Machado, Vinicius de Moraes, Antoine de Saint-Exupéry e Clarice Lispector
Enviado por Gui Machado em 03/10/2015
Reeditado em 21/11/2015
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