CARTA DA AMADA LOUCA

Ouvi, por diversas vezes, ser a amada encantadoramente louca, que todo o trovador deveria encontrar. Todavia, o amor oprime e põe em dúvida o pagamento do preço, do tempo, do nada que possa representar o sexo diante de tudo.

Os conselhos inteligentes impugnam o amar como se isso fosse possível. E, subjugas o melhor de nós a horas boas, apenas. De que forma acreditar no começo se o que ouço é o fim e suas correntes opressoras do sentir?

De que adianta o corpo falar tantas linguagens, se ele não ouve o coração e mata, a cada presente, o que te dou de futuro?

Transformas o amar em joia falsa e sem valor, a escorrer por entre os dedos, sem que nem eu mesma pressinta o poço profundo do tempo em que te perdi, pura e simplesmente, por amar demais.

Só resta um vento frio a soprar quando é chegada a invernia que te acovarda por sentir-se amado.

É preciso ser forte pra dizer adeus ou igualmente forte para encarar o day after e sua aura hipócrita de aparências. Eu não sou, mas fico ali, aguardando o dragão e sua flama que a tudo chamusca.

Em meus olhos, amado, reside alguma luz.

Enquanto nos teus, reverbera imensa dor. Desfaleceram em vida e não conseguem mais reencontrar àquela alma rutilante.

No adeus, sou gaivota triste sobre as águas, porém, livre para amar. Aprendo voos a cada dia em que o teu espírito desfalece por matar a palavra.

- DO LIVRO TERCEIRA PESSOA, 2015-2018

*Publicado também no Blog www.oficinadoverso.com