O que ficou de nós

Parece que esse negócio de ser forte não é pra mim. Toda vez que eu te disse eufórico que iria embora e que não queria mais te ver, menos de 10 minutos depois eu me arrependia, e só conseguia pensar em como eu ainda te queria. Se não te pedia desculpas, simplesmente te ligava sem tocar no assunto, só dizia que sentia saudades. E assim que fui te amando. Desesperadamente, como se toda noite fosse a última. Quem sabe tu nunca percebeu, mas todo "boa noite" que eu te dava era único. Era o mesmo de ontem, mas saber que tu dormiria com os anjinhos hoje, era saber que tu estava segura, era saber que eu te amei e dei o meu melhor. E todo "bom dia" que te dava era verdadeiro, era saber que no dia de hoje, tu seria minha eterna princesa. Mesmo que fosse o último "bom dia" de nossas vidas. Quem sabe tu nunca me entendeu, mas eu sempre soube que o dia de amanhã chegaria cedo e transformaria o hoje num pesadelo. E todo esse meu anseio, ou receio, era simplesmente a melhor forma que eu tinha de te fazer eterna. Era te amando cada dia como se fosse o último de minha vida.

E por mais que o pesadelo se faça em cena, eu só consigo lembrar de nós. Deitados na rede , comendo batata frita fria e oleosa. Conversando por horas, como senão não houvesse mais tempo pra esperar, apenas tempo pra passar. E tu me dizia que um dia a gente ia casar. E eu ria, dizia "mas que azar".

E eu lembro da praia, a primeira vez que tu disse que me amava. E me abraçou, e ali a gente ficou olhando pro mar. E da outra vez, que a gente até brigou, e eu fingi que tava com medo do barulho do vento, só pra ti deixar eu te abraçar, sem precisar dizer nada. E a luz não voltou, e a chuva não parou, mesmo assim a agente virou a madrugada conversando. E no outro dia rindo de ontem, a gente ficou no quarto, vendo filme debaixo da coberta.

E eu lembro das nossas risadas, das brincadeiras e das coisas passadas. Eu lembro das brigas e das faltas. Dos teus olhos e das tuas sardas.

Do boa noite e do bom dia,do teu sorriso, do teu riso e das cachaçadas.

Da batata frita fria, da rede e da eternidade. Da praia e do barulho do vento, do abraço que te dei fingindo estar com medo. Eu lembro de nós e ainda choro, eu quero mais, mas parece que já aconteceu, parece que nossa história rendeu. Quem sabe de um livro, ou simplesmente de saudade. Mas se deu memória, com certeza dará eternidade.