MÃE... POR QUÊ?

E então fui crescendo, me tornando adolescente, tendo minhas próprias vontades e motivos para rebeldia. Mãe de primeira viagem, temendo sempre de tudo que o mundo possa fazer comigo, protetora inexperiente.

Exagerando sempre nos cuidados, me fazendo uma mulher que mal sabe atravessar a rua... Que andou poucas vezes sozinha, que não sabe nem pegar um ônibus. Porque tremo tanto para ir até a padaria?

[...]

E então desde os meus 15 anos vi que começamos a nos desentender cada vez mais. Pensamentos diferentes, pessoas diferentes.

Sou sua filha, porém, completamente diferente de você.

Você, uma Mulher que assume prezar intensamente a família e protege todos com garra, defendendo-os sem pensar nas consequências... Aos meus 10 anos vi meu irmão mais novo falecendo, de erro médico. Meses de vida. Logo após, minha irmã ao nascer. Somos todos prematuros.

Vi seu mundo acabar ali. Vi você ''se'' acabar. Vi você tirando forças de onde não tinha para me ver feliz, para que sua dor ao perder seu outro filho não me sufocasse. Mas me sufocou.

Desde então, vi que seu jeito de me proteger aumentou cada vez mais. Vi que sou tratada como uma joia grande, de muito valor. Por mais que eu dê valor a isso, entende que isso me atrapalha? Não posso visitar amigas, você também não confia que elas venham para casa. Seu jeito de me proteger ao extremo e de querer me ensinar algumas coisas ao grito me estressa... Me tornei uma pessoa orgulhosa que não aceita ninguém aumentando o tom de voz comigo... Em hipótese alguma.

Talvez porque você ao invés de me bater, sempre gritou muito. Até hoje.

Só que agora, eu retruco. Mesmo não querendo. Respondo, xingo, falo coisas que machucam intencionalmente. É a única maneira de parar nossas brigas.

Sempre te vi forte, poucas vezes te vi chorar. As vezes que vi, nenhuma delas consegui segurar minhas lágrimas.

Quando brigamos, te vejo quieta e me ignorando, como se eu não existisse. Porque age como durona sendo que eu sei que você chora?

[...]

Já nos agredimos algumas vezes, inconscientemente te falei inúmeras vezes que te odiava por estar magoada... Afinal, qual seria a melhor maneira de te fazer entender que eu cresci? Que eu tenho meus pensamentos, minhas vontades, e a necessidade de viver longe de suas asas, mesmo aproveitando o aconchego?

Será que você acha que eu realmente te odeio por tudo isso?

[...]

Quando eu achava que você tinha começado a me odiar, quebrei o pé. Pouco antes, estava tendo crises de falta de ar e dores no peito que tenho até hoje, resultado de estresse. 4 dias depois com muita falta de ar, fui para o hospital e passei a madrugada lá. Lembra?

Fiquei na sala de observação, você não podia ficar junto. Senti uma maldade nos enfermeiros ao não permitir que você ficasse, mesmo vendo meu desespero. Chorei a madrugada toda como uma criança por estar longe de você, com muito medo de morrer.

Então no dia seguinte vi seu rosto cansado, por ter ficado a noite inteira sem dormir, assim como eu. Entregaram-me comida, e por estar cheia de agulhas, você dava me comida na boca, me segurava em um de seus braços e afagava-me enquanto me alimentava como uma criança. Nunca me senti tão amada. Senti que amor de mãe é único. Finalmente entendi aquilo. Senti que Deus fez aquilo para que eu visse realmente o valor de uma mãe, o amor que uma mãe tem, ninguém substitui. Nem mesmo quem casar com você. Nem seu irmão, seu pai, sua tia... Enfim.

Agradeço à Deus por ter você como mãe.

Porém... Não consigo me ver mais obedecendo suas ordens de não sair de casa, de não fazer o que sinto vontade. Entende? Ah, como eu queria ser uma boneca, sem vontades, nem nada... Para que você ficasse sempre em paz ao menos nesse sentido.

[...]

Há uns dias, acordei e te vi segurando minhas mãos. Você não tinha percebido que eu estava de olhos abertos. Naquele toque sincero que senti enquanto dormia até despertar, percebi que você só faz isso por amor, por afeto, pelo seu instinto de mãe que sempre fala mais alto.

Quando você percebeu que eu acordei, soltou minhas mãos e virou para o outro lado. E então, aguardei alguns longos minutos para que você pensasse que eu havia despertado pelo horário. Levantei, fui até o banheiro e tranquei-me. Chorando sem entender ao certo o que estava acontecendo. Apenas, me arrependendo de coisas que fiz, e do seu imenso amor por mim. Uma filha cheia de defeitos, com ira, cada vez mais solitária e distante.

[...]

Ainda brigamos todos os dias. As vezes eu acho que só queria um abraço seu, mesmo que não me dissesse nada. Apenas que ficasse ali por alguns instantes enquanto eu tentasse colocar meus pensamentos em órbita.

Mesmo assim, uma de nossas brigas me fez sair de casa por algumas horas. Vi você contatando com todos, até com minha amiga que em seguida conseguiu me mandar mensagem. Foi bom ficar aquele momento fora de casa. Passei horas olhando para o nada, andando pelas ruas, tentando colocar cada coisa no seu lugar, medindo o valor de tudo, de cada pessoa, de cada coisa, de cada situação.

Cheguei em casa e por fim vi você me chamar e ao entrar no quarto, observou-me por alguns instantes enquanto seus olhos encheram de lágrimas que não conseguistes segurar. Abraçou me com um carinho sem igual, e eu não consegui conter minhas lágrimas por conta disso. E então vi mais uma vez o tremendo valor que ainda me dá.

Carinho de mãe... Como pode ser único? Porque nada substitui? O que vai ser de mim quando você não estiver mais aqui? O que eu farei?

O que eu faço para tudo ficar bem?

E se um dia você não acordar?

Como eu pediria perdão por tudo que fiz e não fiz?

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Tamiris Sindice
Enviado por Tamiris Sindice em 15/05/2014
Reeditado em 23/06/2014
Código do texto: T4806949
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