Uma análise da própria reflexão

Fazendo uma RESSALVA, a falha da minha comunicação, quando disse: “Porém, na sociedade carente de reflexão e precária de análise interior no qual nos encontramos, não foram todos que passaram pelo privilégio de questionar o que vem a ser belo.” Não é uma alusão exclusiva aos candidatos na tal página do “concurso de beleza”. Tento trazer, antes de tudo, como um problema social e de todos. Sou leiga na questão “estética” sim (ainda), mas como tenho uma bem vaga ideia de que esta palavra vem do grego “aesthesis” para se referir à maneira pela qual nossos sentidos são atingidos, era disto que tentava referir. “Questionar o que vem a ser belo” é submeter à análise de como nossos próprios sentidos recebem estas aparências - bombardeadas de representações- se agrada ou não, como e por que, na subjetividade de cada indivíduo; com vistas a nos desvencilharmos de padrões exteriores que inibem as individuais expressões estéticas. A partir disto reconhecer como construímos a noção da beleza, com base em que? Em nossa percepção, ou numa percepção socialmente construída? Estudando uns artigos encontrei algo interessante: “A sociedade do espetáculo para Debord (1997) é aquela na qual onde tudo é produzido a partir de um desejo construído, não permitindo que o sujeito tenha acesso ao que ele de fato deseja. A subjetividade perde sua função e seu lugar. Ocorre uma massificação do desejo e o indivíduo passa a desejar aquilo que o outro deseja para ele. É o resultado da formação econômico-social da sociedade moderna” (O meu prazer é meu maior desejo: uma análise da sexualidade feminina na contemporaneidade. Fernanda Schieber Saúde Vilas Boas de Oliveira Jota - Mestranda em Psicologia clínica e cultura/ UNB, em outubro de 2007).

Ou seja, partindo de uma perspectiva que o corpo é campo de prazer e excitação nas relações afetivas, ele passou a ser explorado para uma forma de uniformizar nossas percepções do que é agradável e aí sim podemos dizer em mercado de corpos. Quando falo de questionar o que vem a ser belo proponho um retorno a subjetivização do belo, a fim de extrair pela raiz a ditadura de uma beleza que por sua vez tem como objetivo o inatingível ao homem mortal. Primeiro cada um reconhece a subjetividade do belo com vistas a anular tal padrão em voga e exterior aos nossos sentidos, ao passo que nos capacitamos em respeitar as mais variadas expressões fenotípicas. Contudo, em nenhum momento tive uma intenção implícita de depreciar as pessoas da nossa sociedade pela falta de reflexão sobre as representações estéticas do corpo (quando afirmei que não foram todos que passaram pelo privilégio de questionar o que vem a ser belo) e, sim, de levantar a necessidade de mais estudos e maturidade para tratar desta temática. Para finalizar gostaria de esclarecer que “numa sociedade que mama o culto ao corpo perfeito, um concurso de beleza é tido como um passatempo inocente” se refere à questão toda descrita ao longo do texto que nem todos ainda se deram ao privilégio de se questionar, de tal forma que se torna nocivo para estas mesmas, e nossa sociedade do culto às aparências agrava ainda mais o problema. Enfim, aquele que se achar livre para pensar além dos padrões instituídos, pode cooperar para soltar os que ainda se encontram presos e dependentes de um sistema tirano mediante a valorização e o respeito pelas diferenças nas estruturas físicas. Viva os gordinhos, as magérrimas, malhados ou não, porque o importante é não se comparar (não ter o outro como referência), estabelecer relações na base do respeito pelo diferente e levar em conta a estética que incita, sim, a escolha individual do belo - não como uma verdade do todo, mas que categorizam nossas opções.

Trarei novidades assim como começar a disciplina “estética”.